sábado, 20 de outubro de 2012

Modesta Proposição para a Resolução dos Problemas do Mundo.

Muita tinta tem sido gasta na palavra "crise." Passamos o dia todo falando de Crise Ambiental, Crise Econômica, Crise de Valores, Crise de Confiança no Governo, Crise! Crise! Crise!
Eu não sei quanto à vocês, mas estou cansado de tantas crises. Cadê aquele sentimento bacana de estabilidade e progresso que nós tínhamos numa época não muito distante dessa? Ele deve ter ido pra algum lugar.
Hoje, eu me dispus à recuperá-lo. Assim, saí em uma jornada de descoberta pessoal, através do consumo indiscriminado do que a mídia mais tradicional, comercial e respeitável diz sobre a resolução dos grandes desafios que se encontram à nossa frente, isso é, quando ela não está ocupada  em transmitir cada passo da Carminha, algo que, felizmente, também ficou pra trás. 
Assim, tendo como base nenhuma reflexão pessoal e uma fé naquilo que o senso comum e as vozes de nossos queridos especialistas aconselham, aqui estão as soluções para os paradigmas atuais da civilização, elaboradas sob a forma de oito modestas proposições para tornar melhor a vida de todos, especialmente os que merecem.

1) Reformular nosso código tributário.
Ninguém pode negar a importância disto! Afinal, o que causou a crise na Europa? Seria a desregulamentação do setor financeiro, levando à uma expansão incontrolável de bancos que faziam apostas arriscadas e davam recompensas bilionárias para os CEOs que, no fim das contas, botaram tudo à perder? 
...Ora, eu tenho cara de quê? Comunista? Quer dizer, é evidente que estamos em tempos difíceis, mas nem por isso devemos ceder à tentação de culpar pela crise atual os membros mais produtivos de nossa sociedade. Afinal, se um trabalhador recebe 1000 R$ por mês e o seu patrão recebe 50 000 R$ por mês, é evidente que é porque o patrão trabalha 50 vezes mais intensamente.
Assim, reformas são necessárias para que se recupere o crescimento econômico, chave da felicidade de nossa nação. Proponho que se eliminem os impostos para aqueles que ganham mais de 1 milhão de reais por mês. Assim, estaremos reconhecendo-os como os membros mais valiosos de nossa sociedade. Afinal, durante muito tempo estes titãs foram esmagados por regulamentações excessivas de caráter socialista que os impediam de contribuir à sociedade com sua genialidade.
É claro, essa estratégia tem limites, e precisamos encontrar uma maneira de fechar as contas do Estado. Sem a receita dos impostos pagos pelos ricos, é provável que os 90% mais pobres da população devam pagar algo como 80% de sua renda em impostos. Mas isso, caro leitor, será positivo! Afinal, se, quanto mais pobre você for, mais impostos pagar, isso se tornará uma incentivo para ficar rico.

2) Acabar com o assistencialismo, criando oportunidades.
Falando nos pobres, é evidente que o assistencialismo excessivo de nosso governo Bolchevo-Socialista cria uma sociedade injusta, em que espertalhões abandonam seus empregos pagando salários na casa de algumas centenas de reais para ficarem em casa, mamando nas tetas do Estado, recebendo uma pequena fortuna   em benefícios governamentais. Tudo uma estratégia para que se perpetue ditatorialmente o tal governo, criando uma massa cativa de eleitores.
A classe produtiva cansou-se disso, e exige que se acabem esses benefícios para que se crie uma cultura empreendedora e trabalhadora nesse país de preguiçosos e miseráveis.
É evidente que, com o aumento de impostos para os pobres, deverão ser criadas oportunidades para os afetados. Desde já, sugiro o resgate do milenar esporte da caça, estabelecendo-se um sistema onde as mães interessadas deixarão suas crianças no cuidado de country clubs situados perto de florestas e outras áreas naturais, onde serão caçadas pelos sócios, junto com outros animais da fauna local. O sistema já está sendo implantado nos EUA.

3) Privatizar!
Indo no mesmo sentido das últimas propostas, é evidente que nosso modelo atual de gestão dividida por empresas e governo não está funcionando. As estatais são ineficientes e geram perdas trilhonárias para o contribuinte e os cidadãos de bem(s). Assim, é preciso demolir o aparato de Estado, privatizando-se o sistema de Saúde, as escolas, as estradas(bom, as que já não são privadas), as florestas, as praias(só assim se acabará com os farofeiros. Quer pegar sol? Fique na laje!) nosso espaço marítimo e o ar. Se o ar de São Paulo, por exemplo, for deixado em concessão à empresas privadas, ele com certeza ficará mais limpo, e todas as pessoas que não puderem pagar... Bom, é só voltar pro Ceará.
É claro, nem tudo é ideologia, e é preciso que os contribuintes ajudem á financiar essas empresas quando elas estiverem em dificuldades. Pela causa do capitalismo.

4) Vigilância constante para uma vida mais segura.
É claro, todas essas modificações súbitas na forma de se administrar o Estado trarão certas insatisfações. No passado, a falta de meios significava que o Estado não tinha como saber quem estava insatisfeito, e essa insatisfação às vezes crescia á ponto de ebulição, resultando em algo que no passado se conhecia como "revolta". Para que se evitem novas "revoltas", que muitas vezes resultam em grandes desrespeitos ao direito sagrado da propriedade , é preciso que o Estado, recuando da área econômica, garanta os direito de seus cidadãos, mantendo uma vigilância constante na área pessoal. Para tanto, recomendo que sejam expandidas as redes de câmeras de supervisão de circuito fechado, muito populares em países civilizados e desenvolvidos, como a Inglaterra. É claro, isso só não é suficiente. As próprias famílias muitas vezes são focos de onde se espalham bobagens anti-sistema. Assim, a expansão das forças de vigilância em patrulha 24-horas pelas cidades também incluirá a contratação de uma pessoa por família, que garantirá que todos no domicílio estejam satisfeitos com as reformas. Durante os três primeiros anos de contratação como "Vigilante Familiar", o uso de um chip especial para reduzir a disparidade entre as ordens recebidas e efetivamente aplicadas será opcional.

5) Reformar a Democracia. 
É impossível ter democracia em um país de tanta desigualdade, afinal as diferenças de classe jogarão as pessoas umas contra as outras, e o analfabetismo endêmico em nosso país impede que as pessoas se informem corretamente da política, escolhendo candidatos que, muitas vezes, não representam seus verdadeiros interesses. Assim, é preciso resgatar os princípios do grande patriarca de nossa independência, José Bonifácio, expressos na Constituição de 1824. Ele sem dúvida ficaria deprimido com todas as modificações que ocorreram desde então, e gostaria que se restaurasse o espírito com o qual essa nação foi orifinalmente fundada- e assim, defenderia a limitação dos votos para mulheres, pessoas de baixa renda, analfabetos e escravos. É claro, não há mais escravidão hoje em dia, mas os descendentes de escravos são facilmente identificáveis pela cor da pele, o que possibilitaria sua exclusão benigna do processo eleitoral. Digo exclusão benigna pois são pessoas que, geralmente, votam pensando em interesses de curto prazo. Se deixarmos a democracia para pessoas imbuídas de verdadeiro espírito cívico e um projeto de nação, esse país poderá chegar ao desenvolvimento. Todas essas reformas inclusive tornarão a democracia um assunto mais agradável, e acabarão com as longas filas nos dias de eleição.

6) Expandir os direitos de propriedade intelectual.
Se você acreditar nos malucos que surgem pela internet, vai pensar que as leis de propriedade intelectual entravam a criação de ideias e novos produtos. Ora, isso é como dizer que o fato da polícia prevenir roubos é algo ruim! O extremo lógico do raciocínio dessas pessoas é o fim dos direitos de propriedade. É claro que 70 anos após a morte não é suficiente como limite para a quantidade de tempo em que um autor deve continuar recebendo. Afinal, a sua redação da escola nunca foi tomada por ninguém, ela é trabalho seu e você mereceu aquele 6,0 medíocre! Por isso, defendo a expansão dos direitos de propriedade intelectual ad infinitum. Assim, se o copyright valer até o dia do Juízo Final, haverá mais incentivo para produzir até lá. 
Além de uma expansão quantitativa dos direitos, deve haver também uma expansão qualitativa. Assim, para financiar a máquina do Estado, serão feitas privatizações de criações do domínio público, como a música da Ciranda Cirandinha, do personagem Saci Pererê, e do patrimônio genético da nação brasileira, rico graças à sua miscigenação, com base na bem-sucedida experiência islandesa. Também serão feitos leilões para a venda de nomes, como Fernando e Carol, que poderão ser alugados aos pais que quiserem dá-los à seus filhos pelos proprietários. A palavra "Saudade", que só existe na nossa língua, poderá trazer um retorno particularmente grande se leiloada.

7) Acabar com o desemprego.
O desemprego é um grande problema no mundo atual. Países como a Espanha chegam á taxas absurdas de 25% de desemprego. O que fazer então?
Podemos começar simplesmente pela proibição do desemprego. Quem ficar desempregado, vai pra cadeia. Simples assim. Isso permitirá à nossa nação evitar a proliferação de pessoas desocupadas, vivendo de ajuda do Estado, de favor ou simplesmente de tocar triângulo no Metrô. Estendendo-se esta proibição para moradores de rua, famosos por espalhar sujeira e serem tão desocupados como os desempregados, teremos ruas mais limpas e pessoas bem-ocupadas.

8) Acabar com os destaques indevidos da suposta "multiculturalidade"
A maioria está cansada de ser oprimida pela minoria. Chega de valorização das culturas afro-descendentes e de "religiões" como a Umbanda em detrimento da fé Católica! Tudo isso advém, no fim das contas, da decisão bizarra de reparar os "erros históricos" da escravidão, como se os escravos não tivessem gostado de ganhar uma estadia gratuita em um navio de passeio, casa, comida e roupa lavada, e conhecer as praias do Nordeste e as belas paisagens do Vale da Paraíba. 
Os últimos governos se preocuparam tanto em ressaltar que essa é uma sociedade laica e multicultural, deram tantos destaques às minorias como mulheres, negros, gays e bissexuais, que acabaram de esquecer que democracia é algo que também deve interessar à maioria! E a maioria é branca, católica e macho pacas.
Ok, talvez não sejamos a maioria, mas isso não nos torna uma minoria? Logo, não devemos ser menosprezados pelos defensores da multiculturalidade! Devemos, na verdade, ter um espaço de representação proporcional! Assim, já que 90% da população é cristã de alguma forma, 90% dos anúncios que defendem a multiculturalidade deveriam defender o respeito à fé cristã e somente ela. Está na hora dessas minorias saberem seu espaço na sociedade. Não toleraremos racismo ao reverso.


E é isso. Eu agora pergunto à você, querido leitor, o sonho de uma sociedade mais limpa, mais ordeira, próspera e feliz deve permanecer apenas isso, um sonho? Ou podemos aspirar à torná-lo uma realidade? 
Se começarmos hoje, poderemos mobilizar toda a classe de pessoas exploradas por esse Governo brutal que não respeita nossos direitos, reunindo toda a classe produtiva, aliada aos cidadãos de bem(s), para que se crie um governo verdadeiramente cidadão e que supere as crises dos tempos em que vivemos. 
E eu sei que as eleições já passaram, mas não precisamos esperar até as próximas para começar à agir e botar esse plano em marcha. Afinal, o outro movimento que salvou nossa pátria da ameaça de então não esperou até as eleições de 1965.

Franco Alencastro só fala sério quando está contando piadas.

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