terça-feira, 2 de outubro de 2012

Repensando a República- 2

Com o mês de Outubro começando agora, estamos cada vez mais nos aproximando daquela sacrossanta festa da Democracia- as Eleições Municipais de 2012.
Mas eu gostaria de chamar atenção para uma outra data, ligeiramente mais distante; a data na qual, na verdade, costumavam ocorrer as eleições no passado. O 15 de Novembro.
O 15 de Novembro é uma data especial, e não porque você vai ganhar feriado, seu preguiçoso. É aquela data em que nos sentamos juntos à família para fazer um balanço deste último século de Republicanismo que o Brasil viveu.
Nah, caô, a maioria das pessoas faz churrasco mesmo, e eu estaria sendo desonesto se dissesse que não é muito mais divertido. Mas, como esse é meu blog e eu sou pago para reclamar de um jeito vagamente humorístico sobre absolutamente tudo que acontece ao meu redor(ok, eu não sou pago, eu apenas tenho tempo livre) e a única outra alternativa é postar roteiros de filmes de terror que ninguém lê, lá vai o meu próprio balanço dos nossos (quase) 123 anos de República, 100% inconsequente, 100% insolente e 99% incompleto.
Fases da República
Complicada e Perfeitinha(só que não), a República é uma mulher que passou por muitas fases.
Começou com 41 anos de dominação oligárquica, ironicamente menos democrática que a monarquia semi-absolutista que nos governava até então. A ironia diminui quando você percebe que o homem que começou tudo isso(não citarei o nome de *quase* ninguém, pois a maioria dos políticos que aparecerão aqui já fizeram o suficiente para sujar o próprio nome, e outros que estavam na ativa em 1889 ainda estão participando de eleições hoje. Estou olhando pra você, Plínio.), o pai de nossa Democracia, um general dono de prodigiosa coragem, intrepidez e bigode¹, era na verdade um monarquista de carteirinha. É pessoal, ele gostava muito da monarquia, mas ele queria *outro* velhinho de barba branca no trono.
Foi um período sombrio, em que o país era governado por fazendeiros paulistas sacanas, fazendeiros mineiros não menos sacanas, e uns cabras da peste do Nordeste que adoravam encher caixas com pedaços de papel com o mesmo nome, por algum motivo.
Tudo isso provoca a ira de um grupo de militares, cuja única reação é fazer pirraça na Avenida Atlântica muito antes de ela ser conhecida como ponto para outro tipo de diabruras, e, quando isso dá errado, decidem ir acampar ao redor do Brasil.
Todo esse acampamento, e, ah, sei lá, uma eleição contestada, levam à queda da oligarquia e à instalação, durante 15 anos, do regime que muitos brasileiros consideram a "Era de Ouro" do Brasil no Século XX- o que não depõe muito à favor do Brasil no Século XX, visto que se tratava de uma ditadura fascista.
Muitos salários mínimos, votos femininos e carteirinhas de estudante depois, o tal regime chega à um fim anticlimático e é substituído pelo mais próximo que tivemos de uma democracia até então, o que dura 19 anos. É uma época, tipo assim, meio tensa- um presidente morre em exercício, outro se suicida, outro renuncia em circunstâncias que soam como piada de bar, e dois chegam à levar golpes. É uma época de ideias interessantes, como a Bossa Nova, e outras nem tão interessantes assim, como Brasília.
Os militares passam as duas décadas fazendo hit and miss, até que finalmente conseguem um headshot na democracia brasileira, que, pra todos os efeitos, morre por 25 anos. Esse período tenebroso da história nacional foi marcado por líderes cuja vontade de reprimir e torturar era infelizmente inversamente proporcional à incompetência, por inflações de 12 dígitos, projetos de infraestrutura duvidosos e as melhores músicas de rock já gravadas nessas paragens.
Quando finalmente se percebe que esse negócio de ditadura é, assim, meio anos 70, opta-se pela tal redemocratização, que inexplicavelmente demora 6 anos, e, por causa de um acidente histórico lamentável, leva o pior governo militar que nós já tivemos à ser substituído pelo governo civil mais banana que nós já tivemos. Opa, falei em banana? São 24. 500 cruzados, muito obrigado.
Esse vácuo súbito na política nacional é preenchido por toda uma geração de políticos que sem dúvida forma a mais patética pantuscada de populistas patifes e picaretas que já passaram por aqui, como Fernando Collor e Leonel Brizola². (Sim, aqui eu não me imiscuio de falar o nome, não.)
Com a chegada de uma nova Constituição, esse interregno maçante é substituído por uma Nova República, que dura 24 anos e contando. Mas... "Nova"? A desigualdade de renda assustadora e a corrupção que chega à níveis francamente patológicos são esquecidos com ajuda de um crescimento econômico bastante saudável, o que torna essa República essencialmente uma reprise das anteriores, como um tipo de colagem monstruosa, misturando populistas carismáticos, moedas flutuantes, coronéis nordestinos, brutalidade policial, e estradas que não levam à lugar nenhum. Só que com muito, muito mais memes.

Franco Alencastro is not the Real Slim Shady.

1. Agradeço à Leandro Narloch pela piada.
2. Sim, eu sei que Brizola já era político nos anos 50, mas estou pouco me lixando. Quero mais é que ele morra. ...Pera, ele já morreu? ...Mó Bad. Bom, antes ele do que eu.

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Esse é o segundo de uma possível trilogia de textos que estou fazendo sobre a nossa querida República. Para ver o primeiro, clique aqui. Para ler a terceira parte, clique aqui.


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