quarta-feira, 27 de março de 2013

Fascistas!


A fa(s)ce de um ditador.

Eu tinha um professor de português que costumava dizer: "A hipérbole é onde as expressões vão para morrer."
Na verdade, eu nunca tive um professor que disse isso, é só que dizendo dessa forma ganha um ar de autoridade.
Mas eu mantenho minha posição. Transformar expressões em hipérboles, ou pior, em xingamentos, faz um desserviço enorme à língua e à sociedade. Eu sei que isso é um processo orgânico, e que conforme as expressões se desvalorizam, encontramos novas para expressar o que sentíamos antes, e toda aquela boiolagem Chomskiana. Mas, para mim, existem umas expressões mais importantes que outras.
Tome a palavra 'fascista', por exemplo. Descreve uma ideologia criada por um ditador sacana na década de 20, apropriada por um ditador mais sacana na década de 30, que pregava o retorno à um passado de glória, o culto à um líder carismático e o extermínio de quem não concordasse, e mais algumas pessoas, essas só pela diversão.
Desde então, a palavra fascista tem sido usada por pessoas de todas as correntes políticas para descrever seus opositores. É frequente o governo de Sérgio Cabral, no Rio de Janeiro, receber esse epíteto. Rodrigo Constantino, em um texto recente, qualificou o governo de Hugo Chávez de fascista, ao mesmo tempo em que acusava a esquerda de chamá-lo de fascista. Bush é fascista. Lula é fascista. Angela Merkel é fascista. Marcelo Camelo é fascista. Somos todos fascistas, o mundo é fascista. Até os judeus são fascistas, só não perceberam. Negros são fascistas. Os gays são fascistas. Os travestis são fascistas, quando não são outra coisa. O politicamente correto é fascista, e o politicamente incorreto também.
Pois eu tenho nojo disso tudo. Palavra é que nem prostituta, quanto mais gente usa mais fica gasta(nada contra essas valentes trabalhadoras). Tenho a impressão que o maior contato que certas pessoas que acusam seus adversários de fascistas tiveram com o verdadeiro fascismo foi quando foram assistir 'Bastardos Inglórios' no cinema porque os ingressos de 'Avatar' tinham esgotado. Só isso para explicar a forma como qualificam o governador do Rio de Janeiro de fascista. É claro, não faço apologia ao governador, já que ele faz isso para si mesmo sempre que pode. Ele não é flor que se cheire. É potencialmente um criminoso, e também cheira mal. Mas o PMDB não é o partido único do Rio de Janeiro, tanto que temos uma oposição pequena mas vibrante. As críticas aos programas das UPPs circulam com facilidade, e, talvez ironicamente, é mais fácil criticar a polícia nos territórios onde tem UPP do que naqueles onde não tem. Não temos uma 'juventude cabralista', até onde eu sei. A centralização da mídia é algo sim à ser questionado, mas existe em quase todo o Ocidente, e existia nas sociedades ditas comunistas.
Mesmo uma palavra extremamente negativa como 'fascista' pode ficar desvalorizada, na medida em que se banaliza. O cinismo que reina na sociedade atual (maldita música grunge!) não vai tardar à reconhecer isso, e a Lei de Godwin vai imperar na vida real, levando à qualquer acusação de fascismo à ser rapidamente desacreditada. Um dia, teremos o fascismo de verdade, e ninguém vai acreditar, porque o termo já virou piada.
Nem Marcos Feliciano é fascista. Racista? Sim. Homófobo? Sim. Fascista? Não. Fascismo é uma ideologia complexa demais para um idiota da categoria de Marcos Feliciano. Ele é um tipo de perigo bem diferente, mas estou tergiversando.
Chamar tudo de 'fascismo' também é um tremendo desrespeito, a meu ver, às vítimas do verdadeiro fascismo, muitas das quais ainda estão vivas, e sofreram em campos de concentração e prisões políticas, para não mencionar viver sem liberdade. Muitas delas vivem hoje no Brasil, e podem ser seus avôs, avós, bisavós. Perguntem alguma coisa ou outra para eles de vez em quando; talvez aprendam algo.

PS: E pelo amor de Deus, alguns de vocês ainda precisam aprender a escrever a palavra 'fascista'. Eu já vi 'facista' e 'fassista'. O que é um 'fassista'? Um passista de escola de samba com tendências totalitárias?

Franco Alencastro não entende nada de linguística e pede desculpas à Noam Chomsky por fazer seu nome aparecer em um artigo de quinta categoria.


terça-feira, 19 de março de 2013

Trilha Sonora para a Infância do Homem

3.
Chega ele, pelado,
abaixo do galho
na floresta, no resto,
e tudo continua, nua
ela, ou ele? ambos
se espalham, paspalham.

4.
Dois paspalhos, dois galhos
de uma árvore, à ver ao redor
e um vê o mundo, em bela ordem, glória:
essa será sua história
serei do mundo, mas dele não viverei;
retirarei o necessário, sairei na chuva,
ficarei sob o raio, sofrerei em dezembro
morrerei em Maio, de fome,
e meu nome virará poeira,
comida no centro, na beira
serei o pó, serei poeira, serei comida
parte do fluxo constante da vida.

5.
O outro galho se encolheu, retorceu, e disse:
viver no mundo? Não! Viverei no Mundo,
viverei do mundo, e meu ele será.
Do Deus-dará, nada terei, o rei
das criaturas, grandes e diminutas
livre das agruras, escravo da luta
contra o mundo, guerra eterna
contra tudo, luto, só, só
solo solitário, sonho ancinhar o solo,
acidificá-lo, e assim ficar satisfeito,
erguer o mundo perfeito, feito além
das colinas, montanhas, montes, horizontes,
glaciares, planícies, homicídio, morte de tudo
todos iguais, todos servindo, indo e vindo,
ao sabor das estações, verde solo, vejo a
planta idêntica, aritmética, num projeto
reto, ereto, mestre do feto, mestre do mito,
em cada centímetro chega mais um, cabe mais um
unos na guerra, nas fileiras da fronteira, guerra à Terra
até o fim, findar a glória, vitória final: Nada sem fim, sim, 
similaridade, uniformidade, em todas as nações, ao sabor das estações.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Trilha Sonora para o Nascimento do Universo

1.
Só, só
solo solitário
lento, lendário,
desvivido, desprovido
na escuridão só o vazio.

2.
E de repente, entremente
eis que surge, ruge
chove, se move, não remove, permanece
nesse mundo, imundo, desmundo, a flor, a raíz
cresce, desce, sobe, desenvolve
na água, na terra, na-tureza, ar, mar!
Viva, vida, água-viva
é água? é vida? Virá a ver?
Vem mais por aí, é ver para crer
espalhar, arear, ar e ar.

quinta-feira, 14 de março de 2013

A Mulher-Objeto

     Estava andando na rua à tomar um milkshake, quando algo me atingiu em cheio no cérebro. Não, não foi o gelado do milkshake. Foi outra coisa: uma ideia. Nay, mais que isso, uma pergunta provocadora e espertinha, e ela é mais ou menos assim.
Muito do movimento feminista de hoje tem como objetivo combater a objetificação da mulher. Eu ando me perguntando o que isso significa. Afinal, se eu chequei meu dicionário recentemente(eu leio o Houaiss no caminho da faculdade), "objetificação" significa "o ato de transformar em objeto."
Pois bem. Eu até entendo porque as feministas ficam irritadas com a objetificação da mulher. Afinal, objetos, como o controle remoto, podem ser um verdadeiro trauma em nossas vidas. É o computador que teima em dar xabu bem quando você encontrou aquele vídeo pornô que estava procurando, é o controle remoto que conspira contra nós e desaparece, é a cadeira que solta farpa. É, eu, como a mulher que não sou, sem dúvida não iria querer me ver associado com algo tão perverso como um objeto.
Mas, ao mesmo tempo, os objetos podem ser bons para nós. Objetos como trens cortaram continentes, conectando cidades e civilizações e aproximando povos que antes se desconheciam. Objetos encurtaram as distâncias e nos deixaram à um clique um do outro, com a internet. Objetos de papel e capa dura(ou mole, dependendo da edição) ajudam à transmitir o conhecimento entre as gerações e preservam as conquistas intelectuais, enriquecendo a experiência humana. Objetos...
Olha, acho que vocês já entenderam. Mulheres, eu faço um pedido: não condenem os objetos! Abraçem a objetificação! Viva a Mulher-Objeto!
     Afinal, a mulher sempre teve orgulho da sua função como objeto. Pergunte para a sua avó, e ela te dirá como se esperava que as mulheres soubessem cozinhar, limpar, lavar pratos; várias das coisas que os eletrodomésticos de hoje fazem. Ou melhor, olhe para a sua empregada, e veja como essas dignas funções são realizadas por pessoas-objeto até hoje.
Em tempos: Um milk-shake antes do almoço é muito bom pra ficar pensando melhor.

Franco Alencastro apóia o Feminismo e tal, mas antes queria saber quem é esse tal de Femin.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Loucademia de Polícia 7: Ou, como eu aprendi à parar de me preocupar e amar Herbert Richers

     As traduções brasileiras de filmes gringos(particularmente aqueles exibidos no SBT) já foram motivo de piadas feitas por tanta gente que fica difícil extrair algo novo de material tão velho. Sim, vocês já sabem que o narrador da Sessão da Tarde fala "turminha do barulho", "enrascada", "tiras" e outros termos que ninguém além da sua avó que mora em Goiás usa. Sim, vocês sabem que as bocas dos atores se fecham e as falas continuam. Sim, vocês sabem que eles tem só 10 dubladores que eles ficam revezando.
Dito isso, se me permitirem, eu gostaria de fazer mais uma queixa aos dubladores de filmes. 
Diz respeito aos títulos.
É, os títulos.
Não é o fato de eles soarem estranhos e usarem termos que ficam datados muito rápido (O clássico de terror Quadrilha de Sádicos provavelmente soava sensacionalista até na época. Eu imagino a "quadrilha de sádicos" como um grupo de capangas baixinhos que ajudava o Maníaco do Parque. Talvez como aqueles baixinhos amarelos de Meu Malvado Favorito).
Não.
É simplesmente o fato de eles serem desesperadamente, irrevogavelmente genéricos.
Eu queria dividir uma história com vocês. É sobre intrigas, amor, traição, guerra, e um filme chamado O Clube dos Cinco.
Na verdade, ignore as quatro primeiras coisas, porque essa história é só sobre o Clube dos Cinco mesmo. O Clube dos Cinco, pra quem não sabe, é um clássico do cinema para adolescentes dos anos 80, e um filme que eu quis ver durante anos.
Um belo dia, nosso professor de inglês resolveu passar um filme para a nossa sala. Ele não disse muito sobre o que era; disse apenas o título, The Breakfast Club. 
Eu decidi matar a aula, porque naquela época era um bípede relutante sem perspectiva de futuro. Quando, depois da aula, me contaram o argumento do filme, eu me interessei e procurei por ele na internet. Vi, eventualmente, seu nome original. 
Todo mundo que cresceu nos anos 80, e todos os que experimentaram o revival dos anos 80 que ocorreu entre 2008 e 2011 sabem como acaba essa história. O resto de vocês precisa ver mais filmes.
Sim, O Clube dos Cinco e The Breakfast Club são o mesmo filme. E, como não sou dado à essas coisas, posso admitir que essa história que contei foi uma ficção. Ei, ela não aconteceu, mas poderia ter acontecido, e isso é uma demonstração da escala do crime que eses tradutores perpetram contra nós.
Falando sério, a escala da preguiça desses tradutores me deixa exasperado. Recentemente, com toda a badalação do Ben Affleck, eu queria ver o seu filme anterior, a exploração da criminalidade de Boston conhecido como The Town. Descobri que, em português, o filme se chamava "Atração Perigosa", e, sim, já tinha visto ele passando várias vezes na televisão, mas por causa do título, sempre havia passado sem pestanejar. Afinal, você veria um filme chamado "Atração Perigosa"? Porra, o que isso quer dizer? Eu imagino duas pessoas com imãs no peito e as duas tem facas que apontam uma pra outra, e se elas se atraírem, morrem. Um título como "Atração Perigosa" não diz absolutamente nada sobre o filme. É a marca de que você não se importa com o seu trabalho. Pior de tudo, é a marca que eles não se importaram com seu trabalho duas vezes. Afinal, é um título muito parecido com um certo filme de 1987, chamado Atração Fatal. Eu tenho tempo pra ficar decorando essas coisas, graças à minha condição de universitário vagabundo, mas e uma mãe solteira de três filhos e número ainda maior de empregos? QUE PESSOA SEM UMA QUANTIDADE ABSURDA DE TEMPO LIVRE CONSEGUE DISTINGUIR AS DROGAS DESSES TÍTULOS?
Tem outros casos absurdos, como o seriado Os Gatões, que eu sempre confundi com o filme Gatinhas e Gatões, outro clássico dos anos 80 que sempre quis ver(Molly Ringwald, alguém ainda te ama). De fato, o auge dessa tendência de títulos toscos parece ter sido os anos 80 e 90, embora eu me pergunte se os títulos de hoje não vão ficar ainda mais datados e insossos no futuro do que os títulos de décadas passadas são hoje.
Mas não vou me demorar sobre esse assunto, afinal, já vai começar "Uma Turma Divertida", o apropriadamente divertido filme de baseball de 2005, no SBT.
Gostaria de agradecer à Billy Corgan e seus Smashing Pumpkins pela inspiração para o longo título desse artigo, com base em sua obra-prima, o álbum Mellon Collie And The Infinite Sadness. Vou dedicar também à ele meu próximo álbum, Maníaco do Parque e a Quadrilha de Sádicos.
Herbert Richers vive!
Sabe aquele cara que vai no bar, bebe umas, e começa à derramar filosofias bizarras pra quem quiser ouvir? Franco Alencastro é tipo isso, só que sem o álcool.


Uma palavra ou duas sobre o Papa Latino-americano

Choveu doce-de-leite em Roma quando foi anunciado hoje, quarta-feira, 13 de Março do ano de Nosso Senhor 2013, que sim, Habemus Papam, e ele é argentino. Não é qualquer argentino: é Jorge Mario Bergoglio, portenho de 76 anos, jesuíta. 
É o primeiro Papa jesuíta da história, o que talvez marque a paz definitiva entre a Companhia de Jesus e a Igreja Católica, que não via com muitos bons olhos aquele negócio de ensinar índios à tocar violino e acolher o Robert De Niro.
Piadas à parte, o fato de ele ser Jesuíta traz perspectivas interessantes sobre o papel da Igreja nos próximos anos. Pode significar um realinhamento da Igreja Católica na educação dos jovens, e uma modernização de suas doutrinas para acompanhar. Mais ainda, o fato de esse papa ser latino-americano de um país em desenvolvimento, talvez signifique que o papel social da Igreja Católica, que, vale lembrar, é a maior organização de caridade do mundo(engole essa, Bill Gates), se encontre fortalecido. É um quadro muito mais interessante e encorajador do que o moroso papado de Bento XVI e sua flácida condenação de tudo que é moderno. 
Essa vontade de modernização aparece forte nesse ano que é o primeiro após o suposto "fim do mundo" de Dezembro de 2012. Um Papa é o primeiro à renunciar em 600 anos, o outro é o primeiro não-europeu em 1300(o que levanta a questão, quem era esse não-europeu? A mídia geralmente se concentra em manchetes vazias e esquece de dar o resto da informação). Terá esse fim do mundo sido apenas a data marcando o início de algo novo? O declínio da Igreja Católica terá chegado ao seu fim? 
Só o tempo dirá. Eu sou Franco Alencastro, transmitindo direto de um mundo se apegando às suas últimas esperanças.

quarta-feira, 6 de março de 2013

E a tropa dos ninjas ataca de novo.

Sim, é verdade, Chorão(mas não era Xorão?), vocalista da banda Charlie Brown Jr. faleceu hoje de madrugada.
E isso depois de eu postar minha longa e detalhada história dos ninjas que viajam pelo mundo assassinando qualquer que pessoa que significasse alguma coisa no meu mundo.
Pois bem, agora não é mais piada. Agora virou perseguição.
Esses ninjas acham que são melhores que eu. Pois bem. Eu treinarei no Himalaia. Eu treinarei no K2. No Aconcágua. No Pico da Neblina. Até na Pedra da Gávea. Depois de anos esculpindo meu corpo e minha mente, eu serei capaz de fazer uma flexão usando apenas os cílio e escrever o nome Nietzsche, sem errar a grafia.
Mas tem algo mais importante. Depois de anos longe da civilização, desconhecido por todos, eu serei o único inimigo que eles não poderão derrotar. O único inimigo que eles não esperam. 
O homem menos famoso da Terra.
E com isso, eu os eliminarei. 
Estou partindo hoje. Desejem-me sorte.

terça-feira, 5 de março de 2013

Morre o Presidente Venezuelano Hugo Chávez

     Agora que ele foi embora eu acho que posso expressar a minha admiração por esse homem. Afinal, realizou inúmeros projetos sociais que o tornaram um dos líderes mais queridos da história da Venezuela, e isso se vê na grande proporção de votos que recebeu do povo. Admiro-o também como animal político, por suas maquinações e pela sorte bizarra que ele parecia ter às vezes. Um verdadeiro Príncipe, no sentido maquiavélico da palavra. Também o admiro por ser a vítima do mais midiático(embora, infelizmente, não o mais recente) dos golpes de Estado da histórica recente da América Latina- e por derrotar esses golpistas e a direita carcomida da Venezuela. 2002 foi só um contratempo e a maré rapidamente virou. Hoje, a América Latina é dominada por governos esquerdistas- para o bem ou para o mal.
Claro que toda aquela manipulação constitucional fica bem, mas BEM fora dos limites do que é considerado "política normal." A política sisuda que os anglo-saxões fazem, onde, sabe-se, não acontecem muitas emendas constitucionais nem coisas ousadas desse tipo. A questão que fica aqui é: Será que a política normal é o único caminho? Será que é o melhor caminho? Se vimos recentemente que um grande estadista como Abraham Lincoln usou de politicagem muito bem-amarrada para passar sua emenda da abolição da escravidão, podemos nos perguntar se grandes mudanças são possíveis dentro das regras da política normal.
Pela importância de Hugo Chávez Frias para a América Latina, eu o saúdo. O que a América Latina, o que o Mundo, fará de seu legado? Boa pergunta.

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      Agora depois dessa homenagem relativamente curta, gostaria de mostrar que 2013, pelo visto, continua seguindo uma tendência particular aos últimos 2 anos: Nada faz sentido. Sério, todas aquelas coisas que davam uma certa estabilidade ao mundo desde os anos 2000 está se despedaçando e virando notícia. Deve ser isso; deve ter um grupo internacional de jornalistas ninjas assassinos que viaja pelo mundo matando personalidades influentes. Imagino eles com suas roupas pretas, óculos escuros e cabelo negros e sedosos com gel, na primeira classe de um avião-nah, mentira, eles tem um jatinho-, olhando em um jornal e dizendo: "Olha, essa tal Xuxa parece muito importante. Acho que ela deveria ser nosso próximo alvo." E tem, tipo, um negro, uma mulher gostosa e um cara branco e magricela. O negro e a mulher gostosa encontram o cara branco enquanto ele briga num bar e decidem chamá-lo. No começo, ele está cheio de dúvidas, acha a coisa toda completamente maluca. O negro é um cara engraçado, brincalhão, o alívio cômico da tropa. A mulher é séria, trabalhadora. Trabalhadora até demais; uma workaholic. Ela duvida do cara branco desde o princípio, enquanto que o cara negro acredita nele e o ajuda á treinar. Aos poucos ele ganha confiança em si mesmo, e até a mulher fica surpresa com como ele progride(embora tente não mostrar muito). Ela lhe confidencia que não tem um homem em sua vida desde o misterioso sumiço de seu pai, hà uns dez anos; foi então que, para superar o vazio emocional, treinou e cultivou a frieza emocional de uma assassina.
O branco se integra ao grupo e continua à progredir. O seu momento de auge vêm quando eles conseguem matar o Jô Soares, simulando um infarto, e o cara branco realiza a operação com perfeição. Naquela noite, a trilha sonora do filme(se não era um filme, passou à ser) muda do uso frequente de músicas de rap e sucessos do rádio dos últimos seis meses para uma música suave de piano enquanto o homem e a mulher tem um encontro romântico, que rapidamente evolui para uma noite de sexo tórrido à luz de velas, ao som de alguma música bem melosa, preferencialmente alguma balada de Michael Bolton. 
Daí o impensável acontece: a tropa se reúne para assassinar Pedro Bial fazendo-a engasgar em uma Bratwurst servida por Angela Merkel, que então pisaria em um fio elétrico exposto. Mas a operação dá errado e os dois escapam; a mulher se decepciona com o homem e temos uns cinco minutos de introspecção e briguinhas, além de uma nova montagem musical, filmada no píer de Los Angeles(cheio de gaivotas) com nosso herói jogando pedras no mar e pensando onde errou. Enquanto isso, uma tropa formada por ex-BBBs e liderada por Bial invade a base dos assassinos e mata o amigo negro, e captura a mulher. 
O herói branco encontra o homem negro morrendo, e temos mais uma cena emocionante enquanto ele finalmente deixa esse mundo. Agora é pessoal: o herói branco precisa encontrar sua coragem interior, e vencer esse último obstáculo para salvar a mulher que ama e seu melhor amig... ah não, pera, ele morreu. 
Ele invade a base de Pedro Bial(um laboratório no interior do Corcovado), se infiltrando por um duto de ventilação. Enfrenta seus capangas, distribuindo frases de efeito enquanto os derruba com os golpes que aprendeu com seu melhor amigo. Finalmente, encontra Pedro Bial no saguão do laboratório com a mulher, que grita muito e nem lembra a mulher forte que era no começo do filme. Pedro Bial, então, revela que é o pai da heroína, e que fugiu porque nunca a amou, ou algo assim. Ele duela com o herói. Após uma luta longa e terrível, o herói é jogado de um precipício(sem fundo, naturalmente), por Bial. Porém, vemos sua mão, agarrando-se à beira do abismo. Pedro Bial diz, "Mas não é possível! Eu te matei!" E o herói responde, "A única coisa sua que pode motar qualquer um aqui é a sua poesia!" e joga Pedro Bial no abismo, com uma voadora. 
Porém, Pedro Bial cai no fundo do poço, aterrissando em cima do botão de auto-destruição, que começa à explodir o laboratório. O herói desamarra sua garota, pega um jipe e dirige pelo laboratório que desaba atrás dele(aliás, atrás dele) até que, finalmente, eles vêem a porta, mas que está depois de um abismo. O herói pisa forte no acelerador, e lembra de uma frase tocante de seu mentor negro. Eles pulam o abismo e escapam! O jipe aterrissa bem na Vista Chinesa, e nossos heróis se beijam vendo o pôr do sol.
Temos um epílogo passado seis meses depois. O herói e a heroína estão em uma praia nas Bahamas, mas sentem falta da vida de assassino, então, o nosso herói abre um jornal e vê uma foto do Presidente Obama. Ele abaixa os óculos escuros e sorri. A última música é um tecno acelerado, frenético e pesadão, tocando por sobre os créditos.
Cara, eu tenho que começar à dirigir filmes.

Franco Alencastro assistiu muita sessão da tarde quando criança.

sexta-feira, 1 de março de 2013

E Viva as Cotas Raciais

No começo, nós, da classe dominante, os 1%, os White Iberian Catholics, esperneamos contra a tal Lei de Cotas. "Como assim? Vão tirar de nós a vaga na faculdade que nós tanto almejamos e pela qual trabalhamos durante tanto tempo? Não. Não é assim que a banda toca no NOSSO Brasil."
Gradualmente, porém, o sentimento oposto começou à crescer, e passamos à tolerar, aceitar, e finalmente gostar da ideia de cota.
As cotas passaram à ser vistas como uma causa justa- uma retribuição digna por toda a opressão inflingida contra a raça(ou seria etnia? povo?) negra durante séculos.
Sim, de fato, as cotas são justas. Mais do que justas, são úteis.
As cotas são úteis para mudar o debate no Brasil, da desigualdade social para uma desigualdade racial.
As cotas são úteis porque as pessoas páram de questionar o sistema. Acima de tudo, fornecem uma solução fácil. "O negro não é respeitado na sociedade brasileira atual? Ora, vamos dar à ele uma cota e ele será o dono de seu destino!" Como nós rimos falando isso para as pessoas e as vemos meneando a cabeça em obediência.
As cotas, nós dizemos, destruirão sozinhas quase 500 anos de opressão. Essa foi mais difícil de vender; ainda assim, é irresistível a noção de que todos, agora, possuem uma chance de integrar as classes dominantes. De ter sua fatia do Sonho Brasileiro.
Sim, as cotas são úteis. De algum jeito que nós mesmos não entendemos muito, nós vendemos essa ideia tão bem que um dos maiores argumentos usados pelos negros defensores de cotas- a peça mais útil de nosso xadrez, já que fica difícil argumentar contra eles sem ser chamado de racista- é que "não se vê nenhum negro nas posições de comando, nas empresas, nas multinacionais, nos cargos políticos." Hà alguns anos, a pergunta, talvez, tivesse sido Porque existiam posições de comando nas empresas, ou tantos cargos políticos com tanto poder concentrado. Em suma: porque algumas pessoas mandam, e outras obedecem. As cotas nos ajudaram à transformar isso em um grotesco duelo de raças. Daqui há alguns anos, um negro- devidamente incorporado na máquina de comando- dirá à sua contraparte pobre e sem poder ou influência: "Do que você está reclamando afinal? Para ter chegado aonde eu cheguei, era só ter estudado mais." As cotas matam a contestação.
E é por isso que eu saúdo as cotas. Haverão baixas- parte da nossa elite atual não sobreviverá, e teremos que receber alguns negros nas nossas festas- mas o sistema se manterá incólume.Terá uma cor diferente do lado de fora- mas continuará verde por dentro.