quarta-feira, 27 de março de 2013

Fascistas!


A fa(s)ce de um ditador.

Eu tinha um professor de português que costumava dizer: "A hipérbole é onde as expressões vão para morrer."
Na verdade, eu nunca tive um professor que disse isso, é só que dizendo dessa forma ganha um ar de autoridade.
Mas eu mantenho minha posição. Transformar expressões em hipérboles, ou pior, em xingamentos, faz um desserviço enorme à língua e à sociedade. Eu sei que isso é um processo orgânico, e que conforme as expressões se desvalorizam, encontramos novas para expressar o que sentíamos antes, e toda aquela boiolagem Chomskiana. Mas, para mim, existem umas expressões mais importantes que outras.
Tome a palavra 'fascista', por exemplo. Descreve uma ideologia criada por um ditador sacana na década de 20, apropriada por um ditador mais sacana na década de 30, que pregava o retorno à um passado de glória, o culto à um líder carismático e o extermínio de quem não concordasse, e mais algumas pessoas, essas só pela diversão.
Desde então, a palavra fascista tem sido usada por pessoas de todas as correntes políticas para descrever seus opositores. É frequente o governo de Sérgio Cabral, no Rio de Janeiro, receber esse epíteto. Rodrigo Constantino, em um texto recente, qualificou o governo de Hugo Chávez de fascista, ao mesmo tempo em que acusava a esquerda de chamá-lo de fascista. Bush é fascista. Lula é fascista. Angela Merkel é fascista. Marcelo Camelo é fascista. Somos todos fascistas, o mundo é fascista. Até os judeus são fascistas, só não perceberam. Negros são fascistas. Os gays são fascistas. Os travestis são fascistas, quando não são outra coisa. O politicamente correto é fascista, e o politicamente incorreto também.
Pois eu tenho nojo disso tudo. Palavra é que nem prostituta, quanto mais gente usa mais fica gasta(nada contra essas valentes trabalhadoras). Tenho a impressão que o maior contato que certas pessoas que acusam seus adversários de fascistas tiveram com o verdadeiro fascismo foi quando foram assistir 'Bastardos Inglórios' no cinema porque os ingressos de 'Avatar' tinham esgotado. Só isso para explicar a forma como qualificam o governador do Rio de Janeiro de fascista. É claro, não faço apologia ao governador, já que ele faz isso para si mesmo sempre que pode. Ele não é flor que se cheire. É potencialmente um criminoso, e também cheira mal. Mas o PMDB não é o partido único do Rio de Janeiro, tanto que temos uma oposição pequena mas vibrante. As críticas aos programas das UPPs circulam com facilidade, e, talvez ironicamente, é mais fácil criticar a polícia nos territórios onde tem UPP do que naqueles onde não tem. Não temos uma 'juventude cabralista', até onde eu sei. A centralização da mídia é algo sim à ser questionado, mas existe em quase todo o Ocidente, e existia nas sociedades ditas comunistas.
Mesmo uma palavra extremamente negativa como 'fascista' pode ficar desvalorizada, na medida em que se banaliza. O cinismo que reina na sociedade atual (maldita música grunge!) não vai tardar à reconhecer isso, e a Lei de Godwin vai imperar na vida real, levando à qualquer acusação de fascismo à ser rapidamente desacreditada. Um dia, teremos o fascismo de verdade, e ninguém vai acreditar, porque o termo já virou piada.
Nem Marcos Feliciano é fascista. Racista? Sim. Homófobo? Sim. Fascista? Não. Fascismo é uma ideologia complexa demais para um idiota da categoria de Marcos Feliciano. Ele é um tipo de perigo bem diferente, mas estou tergiversando.
Chamar tudo de 'fascismo' também é um tremendo desrespeito, a meu ver, às vítimas do verdadeiro fascismo, muitas das quais ainda estão vivas, e sofreram em campos de concentração e prisões políticas, para não mencionar viver sem liberdade. Muitas delas vivem hoje no Brasil, e podem ser seus avôs, avós, bisavós. Perguntem alguma coisa ou outra para eles de vez em quando; talvez aprendam algo.

PS: E pelo amor de Deus, alguns de vocês ainda precisam aprender a escrever a palavra 'fascista'. Eu já vi 'facista' e 'fassista'. O que é um 'fassista'? Um passista de escola de samba com tendências totalitárias?

Franco Alencastro não entende nada de linguística e pede desculpas à Noam Chomsky por fazer seu nome aparecer em um artigo de quinta categoria.


2 comentários:

  1. Julgar todo mundo quer, mas contribuir para alguma coisa mudr, ninguém.

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  2. Seu comentário é apreciado, Sr. Unknown, se esse é mesmo o seu nome

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