quinta-feira, 4 de abril de 2013

Garotas Suicidas

Vou começar esse texto admitindo na lata que sou fã das Suicide Girls.
...O que, não conhece? Bom, isso é embaraçoso.
Aproveite essa deixa e dê uma olhada.
O site foi criado em 2001 pelo internauta Sean Suhl e uma tal Missy Suicide, cujo nome certamente não foi dado pelos pais. Desde então, se tornou uma vasta franquia incluindo uma revista impressa, livros de fotografia, até filmes. O site entrevista com frequência personalidades do porte de Natalie Portman e David Lynch.
Mais do que um sucesso financeiro, porém, o site se revelou um triunfo feminista: foi elogiado por várias publicações e indivíduos por redefinir aquilo que é considerado 'belo', abrindo o espaço para a apreciação da beleza não-convencional de sub-culturas como a gótica, metaleira, skatista, punk e por aí vai. Não só isso, mas finalmente as mulheres que não se sentiam representadas pelas anoréxicas e retocadas modelos de revista passaram á ter um tipo de beleza ao qual poderiam aspirar; um que parecia mais acessível, mais próximo da realidade.
É claro, tudo tem seu lado B, e foi por isso que decidi escrever esse texto. Na minha experiência, poucas coisas que são realmente um tapa na cara da sociedade alcançam o sucesso, isso porque a sociedade, por razões óbvias, não gosta de levar tapa na cara. O "tapa na cara" que passa pelo crivo da mídia e cai no gosto popular, como um tipo de masoquismo coletivo, o "falar mal do outro" quando o outro é o coletivo ao qual pertenço, é geralmente uma versão atenuada do original, e que serve para confirmar velhas crenças, mais do que subvertê-las. Suicide Girls, mais do que uma expressão de auto-afirmação frente à uma sociedade moralista e idealista por fora mas altamente corrompida e hipócrita por dentro, é na verdade um feminismo Bic Mac.
Explico. O objetivo declarado do Suicide Girls é o de difundir formas de beleza alternativas, frente à estreita definição dada pela sociedade, como entrega o título de um dos livros que contém fotos de modelos do site: Suicide Girls- Beauty Redefined. Mas o que dizer das modelos em si? Elas são realmente tão diferentes das modelos que vemos por aí? Claro, a maioria delas são pessoas normais, mas quase todas as modelos começaram assim, e, na verdade, tirando os piercings, e os cabelos coloridos, as Suicide Girls se enquadram com facilidade nas noções de 'beleza clássica'- pele branca, simetria das feições, poucos pêlos, ei, a maioria delas é até bem magra. Para as pessoas que defendem o site, isso na verdade pode não passar de adotar uma posição 'politicamente correta' ou 'progressista' sem realmente propôr nada de muito novo ou sair de território familiar. Isso é um problema que acredito permear vários aspectos e causas da sociedade ocidental, e vêm se espalhando como um câncer- desde o movimento ambientalista, até o empoderamento das minorias. Mas estou tergiversando.
O próprio site não escapa de algumas gafes bem anti-feministas. Várias modelos já deixaram o site em protesto às práticas de seu dono Sean Suhl, e ele já foi qualificado de abusivo, misógino e desumano no tratamento dispensado às candidatas, embora poucas informações à respeito das implicações disso tenham aparecido. Essa entrevista esclarecedora detalha algumas de suas práticas, como quando demitiu modelos que queriam trabalhar com outros sites além do seu, além de registrar que chamou as modelos de "prostitutas feias e sem talento". E viva o feminismo.
Isso não seria completamente contrário ao objetivo original do site, que Sean Suhl descreveu como sendo "ver garotas punk-rock peladas".
...Não que eu não ache isso legal.

Franco Alencastro, em homenagem às modelos de sub-culturas que tanto batalham mostrando os peitos para ganharem espaço na internet, vai chamar seu segundo álbum de Maníaco do Parque e as Garotas Suicidas.

Música da semana: I Think I'm Paranoid- Garbage


Nenhum comentário:

Postar um comentário