quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Retrospectiva dos anos 2000: do 11 de Setembro, ao 21 de Dezembro

Estamos naquela época do ano de novo. Ano novo, vida nova! Só não muda a musiquinha do especial da Globo.
Mas principalmente, é época das retrospectivas. Eu não sei quanto à vocês, mas eu adoro retrospectivas. Daqui à pouco, vão começar a aparecer as retrospectivas do ano 2012, que, salvo engano meu, é o ano em que estamos atualmente. Centenas de reportagens que vão insistentemente lembrar de como a Hebe Camargo e o Niemeyer morreram(porque à essa altura todo mundo já esqueceu do Hobsbawm e do Neil Armstrong), que o Obama foi reeleito, que a guerra da Síria não acabou, e nem a crise econômica mundial.
Pensando nisso, e já que todo mundo vai acabar escrevendo a mesma coisa, decidi fazer uma retrospectiva um pouco mais, como dizer... ambiciosa. Sim, vou fazer uma retrospectiva para cobrir todo o período que vai de 2000 à 2012, o que vai ser extremamente conveniente para quem entrou em coma em 1999 e só acordou agora.
Assim, abotoem os cintos. Vai ser uma viagem e tanto.

2000
O mundo não acabou, deixando muita gente decepcionada, e, passado o estouro de Champanhe da virada do milênio, o ano 2000 começa como já se esperava: com uma gigantesca ressaca. Metade dos programas foram dedicados à mostrar como todos aqueles autores do Século XIX tinham errado feio em dizer que neste Século todos teríamos guelras, a Terra seria coberta por uma única cidade e coisas assim.
O Brasil continua sofrendo com uma crise financeira sem precedentes, enquanto o Príncipe dos Sociólogos chega à níveis até então inexplorados de impopularidade. A crise vira ferida aberta quando o país vivencia um reality-show de horrores em 12 de Junho, quando um sobrevivente do infame massacre da Candelária sequestra um ônibus cheio de inocentes e recebe cobertura nacional, no momento mais triste da sociedade do espetáculo.
É um ano movimentado: aos gritos de "um outro mundo é possível", manifestantes queimam lojas do McDonald's, Palestinos jogam(de novo) pedras nos tanques Israelenses em um misto de estratégia de guerra desesperada e golpe publicitário, e os Estados Unidos da América, o país mais poderoso do mundo, fazem um facepalm coletivo quando descobrem que são incapazes de eleger um Presidente. Em um jogo de cara-ou-coroa, escolhem Bush II, imperador do Texas, para liderá-los. De forma alguma isso vai dar errado.
Já o México consegue uma vitória histórica, se livrando da carcomida e septuagenária "ditadura perfeita" do PRI e escolhendo um novo Presidente, Vicente Fox. 
A Internet sofre um revés, quando empresas até então indestrutíveis, como o Yahoo, passam à valer nadica de nada da noite pro dia, obliterando prematuramente o sonho de uma economia digital. O vírus ILOVEYOU contamina milhões de computadores no mundo todo, trazendo novas preocupações de terrorismo virtual. Mal sabiam eles que... bom, isso fica pro ano seguinte.

2001
A onda da anti-globalização continua e chega à seu auge, quando intelectuais e pé-rapados do mundo todo se reunem em Porto Alegre para... bom, não muita coisa na verdade. 
A estética do videogame invade a cultura pop, com o assustador fotorealismo de Final Fantasy e o corpo bem-torneado de Angelina Jolie em Tom Raider. Mas é a fantasia que triunfa no final, com as aventuras de um grupo de hobbits caminhando rumo à um vulcão e um jovem garoto de óculos e cicatriz em forma de raio dominando o faturamento e garantindo o domínio do gênero pelos próximos anos. A estética da década- aséptica, branca, de linhas simples- é lançada pela Apple, com o seu produto de sucesso, o Ipod.
O Brasil continua sofrendo. Sai o show de horrores e entra um longo racionamento de energia que vira um pé-no-saco para a maioria dos brasileiros, conhecido hoje como "Apagão", embora não fosse realmente um apagão.
E, como esquecer, o mundo ganha um vilão, estampado na capa de todos os jornais do mundo: o saudita Osama Bin Laden, que, em um dia de infâmia, atacou o centro nervoso da América, as Torres Gêmeas de Nova Iorque, cravando a primeira estaca na até então indestrutível hegemonia americana e iniciando um novo capítulo na Era da Violência.

2002
Dadinho é o caralho, meu nome agora é Zé Pequeno, porra!  Com essas palavras, o cinema brasileiro se torna a coisa mais quente desde o pão fatiado, na forma do mega-sucesso "Cidade de Deus" de Fernando Meirelles.
O ano é de fato memorável para o Brasil: Não só o nosso cinema conquista novas paragens, nossos 11 melhores guerreiros são enviados para as terras do Oriente e lá conquistam uma taça dourada, a quinta na história do País. Sim, sabichão, estou falando do Penta. Milhares de crianças copiaram aquele penteado escroto do Ronaldo e Galvão Bueno nos fez piscar as luzes de noite para ver quem estava assistindo os jogos, transformando o Brasil em um tapete de estrelas piscantes- embora isso talvez fosse efeito do apagão.
Esse é também ano de eleição, e, como todo bom brasileiro que não desiste nunca, Lula se candidata pela 4a vez. E dessa vez, leva, para desespero de José Serra e dos mercados financeiros, que fazem as malas e tiram seus capitais do Brasil, aumentando a já dramática crise financeira. Pelo menos não estávamos tão instáveis quanto a Venezuela, que sofreu um golpe de Estado que quase pôs fim à experiência chavista.
Nesse ano, descobrimos como trancar uma dúzia de pessoas jovens e atraentes em uma casa cheia de câmeras pode ser fascinante. Bom, eu não descobri, porque até hoje, dez anos depois, não assisti o tal do Big Brother Brasil, mas a maioria do país foi capturado por ele, e, fazer o quê? Se tornou um fenômeno. 

2003
Lula toma posse, e as esperanças de quem queria um socialismo tupiniquim são rapidamente esmagadas quando o governo entra numa fase de "mais do mesmo".
A cruzada de George W. Bush contra o "Eixo do Mal" iniciada no Afeganistão em 2001, continua na nova etapa de sua turnê, o Iraque; o resultado são milhares de pessoas nas ruas de todo o mundo, numa demonstração de solidariedade e contra a escalada da insanidade. O confronto entre o bem e o mal também chega à um clímax nas telas, com a estréia do final da trilogia O Senhor dos Anéis, O Retorno do Rei. De fato, esse foi o ano das sagas, com não só a trilogia dos hobbits carinhosos chegando ao fim, mas também o aventuresco Piratas do Caribe, o ambicioso Kill Bill(lançado em duas partes nesse ano) e as duas sequências do clássico de ficção-científica, além de meu filme favorito, Matrix. Mas o maior inimigo do ano (além do onipresente Bin Laden) não teve rosto: foi a epidemia de SARS, que espalhou o medo pelo mundo e fez todo mundo(bom, todos os asiáticos, se nos guiarmos pelas fotos da época) usarem máscaras.

2004
Os anos 2000 e a era digital começam finalmente no Brasil, com o lançamento da rede social favorita de todos... até 2009. Sim, a rotatividade na Internet é grande. Estou falando de nada menos que o Orkut, que, passada a confusão dos americanos com a "Crazy Brazilian Invasion", que foi como ela entrou para a história, se tornou um site quase que exclusivamente brasileiro, e ajudou a moldar a cultura digital do Brasil. Nas rádios, o indie-rock chegava ao auge, com bandas como Franz Ferdinand e The Killers trazendo ao mundo seu som chato, muito chato.
Enquanto Pitty se esgoelava contra o conformismo e Lost deixava milhares de telespectadores no mundo confusos e eventualmente insatisfeitos, a Al-Qaeda tentava se superar atacando o metrô de Madri, nocauteando a Espanha para fora da Guerra do Iraque. George Bush nem ligou, e surfou para uma vitória fácil nas eleições presidenciais, garantindo mais quatro anos enquanto Ronal Reagan deixava esse mundo e, na maior tragédia da década, uma onda de proporções bíblicas devastou a região mais populosa do globo, aniquilando tudo à sua frente, fazendo um país desaparecer do mapa por um dia e atingindo tanto os turistas quanto a população local. Tudo isso um dia após o Natal. Que forma de fechar o ano.

2005
Tudo começou com o vídeo de um funcionário dos correios recebendo um maço gordo de notas como quem aceita um cafezinho. Não parou por aí. As denúncias, traições e vazamentos continuaram crescendo, formando uma bola de neve como poucas vezes se viu no Brasil(na verdade, nunca se viu, porque aqui não tem neve). Em pouco tempo estava descoberta a maior falcatrua da década: o Escândalo do Mensalão, como foi chamado, sacudiu as bases(e a base) do governo petista, ameaçando aé o até então imaculado Lula. Os 300 picaretas podem até não ter ido para a vala, mas mesmo assim, e talvez por isso, o relacionamento dos brasileiros com a política nunca mais foi o mesmo.
A Al-Qaeda ataca novamente, dessa vez em Londres, resultando na morte deliberada de civis e na morte não-tão deliberada de um brasileiro nas mãos da polícia Londrina.
No Brasil, nos despediamos da VASP, e, pouco depois, o mundo se despedia do Papa João Paulo II, rapidamente substituído por um Sith pouco amigável.
Algo que, inicialmente, não atraiu muita atenção, mas depois passou à ter um impacto enorme foi a criação de um site que tornava muito mais fácil botar vídeos na internet e, claro, assistí-los. Estou falando do Youtube, na época em que ainda era preciso ir beber um copo d'àgua para esperar um vídeo carregar.

2006
OMG WE'RE IN SPACE! Foi o que milhões de brasileiros pensaram quando Marcos Pontes acenou do topo da abóboda celeste para nós, meros terráqueos, se tornando o primeiro astronauta brasileiro(mas não o primeiro astronauta do Brasil, já que, como todos convenientemente esquecem, ele voou em uma nave russa). Isso permite atenuar nossas mágoas por perder vergonhosamente a Copa do Mundo, mas isso também é anulado no final do ano, com o gigantesco perrengue que veio na forma da crise aérea brasileiro, fazendo com que milhares de brasileiros perdesem seus vôos por dias. Apesar do escândalo do Mensalão, Lula é reeleito, o que comprova mais uma vez minha tese de que, em ano que o Brasil perde a Copa, o Presidente se reelege, algo que acontece convenientemente desde 1994, pelos dois eventos acontecerem sempre no mesmo ano. A Itália disse adeus à Silvio Berlusconi (mas não por muito tempo; como todo vilão de opereta, ele ainda tinha não uma carta, mas um deck inteiro na manga). Sérvia e Montenegro se separaram durante a Copa do Mundo, fazendo com que o time fosse dividido em dois. Como o número de jogadores era ímpar, o goleiro foi fuzilado para não causar problemas.
Hugo Chávez chega ao auge com uma retumbante vitória eleitoral de 61% na Venezuela, e o socialismo se espalha na América Latina, com a vitória de Evo Morales na Bolívia, consagrada com um infame confisco das refinarias da Petrobrás. Novas estrelas vermelhas sobem ao céu, outras se apagam: Fidel Castro renuncia em favor de seu irmão, Raul.
O sul-coreano e notório fracote Ban Ki-Moon substitui o sósia de Morgan Freeman na direção da ONU, mas ninguém liga, pois estão todos discutindo se o Playstation 3, o Wii ou o Xbox 360 são os melhores, e porque a ONU não é realmente importante.
Finalmente, chega a um fim simbólico um capítulo da década: a Guerra ao Terror, com a execução de Saddam Hussein, sujo e barbado, no último dia do ano.

2007
A menina Madeleine desaparece em Portugal e o menino João Hélio é cruelmente assassinado no Rio de Janeiro, criando um debate sobre a pena de morte e a maioridade penal.
Após o fiasco da crise aérea, a Varig vai à falência; A TAM tenta superá-la em tosquice, sendo protagonista de um acidente no aeroporto de Congonhas(que, como a mídia insistentemente nos lembrou, ocorreu por falta de grooving) que matou 186 pessoas.
O mundo se encanta com o Iphone; já eu preferi o Planeta Gliese 581c(ainda precisam de um nome melhor) que foi considerado capaz de receber vida na mesma escala que a Terra.
Por algum motivo, decidiram também que seria uma boa escolher as novas 7 maravilhas do mundo. O Brasil vibra quando o Cristo Redentor é escolhido, não sem a ajuda de uma virulenta campanha pela internet, que começa à demonstrar seu poder no país. Além de uma maravilha, o país ganha um santo: o Frei Galvão é escolhido pelo Papa Bento XVI como primeiro Santo do Brasil.
Finalmente, o ano termina em uma nota triste quando Benazir Butto, primeira-ministra do Paquistão, é assassinada, em mais um sinal da escalada da violência naquele país.

2008
O estouro do preço dos alimentos e do petróleo é o primeiro sinal da crise que virá no final do ano e se alastrará pelo mundo com uma velocidade poucas vezes antes vista. Não tem jeito mesmo: 2008 será sempre o ano da crise financeira, como 1929 antes dele.
A crise, que chega em Setembro, traz o colapso dos bancos Lehman Brothers, Goldman Sachs e vários outros com nomes estranhos; dá um empurrão na vitória de Barack Obama, primeiro presidente negro dos EUA, enterrando de vez a triste e longa Era Bush. Joga Bernie Madoff, o maior escroque da história, na cadeia. É, a crise tem suas vantagens, ainda que no Brasil, tenha sido apenas uma marolinha, provocada por homens brancos, de olhos azuis.
É também um ano repleto de geopolítica maquiavélica: enquanto os EUA começam a construção de um escudo anti-mísseis na Europa Oriental para prejudicar a Rússia, o Kosovo se torna independente, enfraquecendo ainda mais a Sérvia, aliada da Rússia, que, para não parecer fraca, invade a Geórgia em plena Olimpíada de Pequim, um grande momento de propaganda para a sexagenária ditadura 'comunista' chinesa. Mas, apesar de todos os esforços, quem conquista o coração do mundo é Michael Phelps, o anfíbio nadador americano.
Bolivianos brancos e capitalistas de Santa Cruz tentam se separar dos Bolivianos indígenas e socialistas de La Paz. Um estranho austríaco, foi descoberto, escondia a sua filha no porão, e com ela fazia mais filhas. Os chineses, chegando ao topo do quadro de medalhas, tem que lidar com uma tropa de desobedientes monges carecas com uma tendência à se imolar. Descobre-se que um simpático e barbudo autor de livros de auto-ajuda esotéricos é na verdade um nada simpático e nada barbudo general sérvio genocida. Heath Ledger deixa o mundo na hora certa, entregando ao mundo o seu melhor papel, no clássico instantâneo que melhor encapsula a Era do Terror e os dilemas de uma sociedade democrática confrontada com o caos, O Cavaleiro das Trevas. O belo Wall-E também é abraçado pelo público, e suas imagens de poluição desconcertante e um futuro pasteurizado habitado por ianques gelatinosos sem espinha ressoa em um momento em que toda a estrutura capitalista parece desmoronar pelo mundo. É hora de recomeçar.

2009
O ano abre com pesadas manifestações da Grécia, no primeiro sinal do caos dos anos que viriam; a juventude está cansada da classe política corrupta e dos banqueiros que lhes atormentam. Mas a Grécia ainda está longe dos holofotes; quem ganha o mundo e é rapidamente esquecida é uma pequena ilha do Atlântico Norte, que deveria ser coberta de gelo mas não é, e que, após perceber que sua dívida era 6 vezes superior ao seu PIB, dá um calote, derruba o governo e expulsa toda a classe política, criando um momento único em que toda a população ajuda a escrever a Constituição.
O mundo continua em polvorosa, à deriva, ainda por definir. A China continua sua escalada, supera a Alemanha e se torna a 3a maior economia. Esta última, por sua vez, aumenta seu poder sobre a Europa e suas dívidas. Angela Merkel, Chanceler de ferro, ou testa de ferro? Só o tempo dirá.
A internet consegue montar sua primeira revolução, quando parte da população se insurge contra a roubada eleitoral do governo de Mahmoud Ahmadinejad, no Irã, no que foi apelidado de Revolução Verde(ei, a Índia quer seus direitos autorais), que contou com uma pesada mobilização pelo Twitter. Não seria a última vez que isso aconteceria.
Um avião da Air France cai no mar em circunstâncias misteriosas, e, em outro canto do Oceano Atlântico, uma ilha é acolhida nos braços da América após meio século de banimento. Enquanto isso, outro país se encontra isolado, por um pequeno detalhe, conhecido como golpe de Estado. O Brasil protagoniza um momento infame da diplomacia, acolhendo o presidente deposto em sua embaixada for shits and giggles.
Enquanto a democracia morre em Honduras, morre também um ícone de todos os gêneros: branco, negro, homem, mulher, com Michael Jackson, não tem pra ninguém. O mundo todo rapidamente esquece das loucuras da supostamente transsexual Lady Gaga para lembrar de sucessos como Beat It, mas dura pouco, e ao final todos já haviam voltado com seus "Roma, Roma-mas". 
Foi um ano muito feliz para mim, porque graças à epidemia de gripe suína, ganhei duas semanas de férias. Dedico estas férias à todas as pessoas que morreram de gripe suína, e à todos que se ofenderão com essa piada.

2010
O Haiti foi devastado por um terremoto, provando mais uma vez que, se você estiver fudido, a vida sempre vai arranjar um jeito de te fuder mais.
Avatar, lançado no finalzinho do ano anterior, se torna um fenômeno, superando Titanic (também do diretor James Cameron) e se tornando o maior filme da história, para não dizer da década. Por 'maior' entenda-se com maior arrecadação monetária., já que essa é obviamente a única maneira de avaliar o mérito artístico. O filme lança a moda do 3D, inflando o preço dos ingressos de cinema e deixando todos fascinados com a natureza digital em formato widescreen da belíssima Pandora e seus esguios smurfs felinos.
Tentando repetir o sucesso da Revolução Verde, adolescentes se insurgem pelo Twitter contra o maxioligarca José Sarney, com a campanha "Fora Sarney, que é um sucesso na internet, mas nem tanto na vida real, não conseguindo empolgar as pessoas à deixar as suas casas.
Mais uma vez, é ano de Copa, e mais uma vez, o Brasil perde miseravelmente, e mais uma vez, a candidata da situação(opa, mudança, dessa vez é uma mulher; ela até gosta de ser chamada de Presidenta) vence as eleições, o que, mais uma vez, leva à acusações de que os nordestinos não sabem votar. A poeira baixou bem rápido, mas algumas coisas da Copa ficaram para sempre, e alguns termos entraram em nosso vocabulário, como "Waka-Waka, eh eh", o sonoro "Jabulani " e as infelizmente onipresentes "Vuvuzelas".
É um ano de atividade sísmica intensa, o que até hoje me faz acreditar em conspiração. Um terremoto destroça o Haiti, outro, logo depois, o Chile, e um vulcão de nome impronunciável entra em erupção na Islândia, irritando muita gente. 
Adicionando ao estranho clima conspiratório, o presidente da Polônia morre quando seu avião cai em uma floresta. Esse clima é acirrado no final do ano quando um australiano andrógino de cabelos brancos, apesar da juventude, ganha o mundo. Julian Assange vira o mundo da diplomacia de ponta-cabeça, com suas 250 mil 'denúncias' na forma de cables diplomáticos vazados para seu site, o Wikileaks. Subitamente, os governos do mundo parecem muitos mais frágeis, algo que teria sérios efeitos nos acontecimentos do ano seguinte...

2011
O ano. Bom, talvez seja um exagero, quer dizer, teve alguns anos importantes antes, mas cacete, que ano. Ele abre com nada mais, nada menos que uma revolução na Tunísia, iniciada com a auto-imolação de um feirante no ano anterior. A onda revolucionária logo se espalha para o Egito, que, em uma revolução pacífica, derruba o sultão Hosni Mubarak, O Corrupto.
Líbia, Jordânia, Argélia, Marrocos, Espanha, Grécia, Itália, Síria... o mundo subitamente pegou fogo. Tudo começa à girar mais rápido. Na meca do capitalismo, Nova Iorque, os jovens excluídos do mercado de trabalho e da economia de consumo realizam uma inusitada revolta, o Occupy Wall Street, que expõe a escala da fratura social provocada pelas desigualdades na América de Obama, onde os banqueiros recebem resgates milionários enquanto a população empobrece. O ultra-conservador Tea Party de um lado, o ultra-esquerdista OWS de um outro, a América se prepara para um embate, e as eleições se aproximam.
A rebeldia se espalha pelo mundo e jovens com máscaras de Guy Fawkes montam tendas em qualquer praça que encontram.
O governo Dilma começa em grande estilo, com a demissão de 7 ministros, dando o tom do novo governo: duro com a corrupção e capaz de dar respostas rápidas.
Como que sinalizando o fim do velho mundo, várias mentes epersonalidades nos deixam: Vaclav Havel, Christopher Hitchens, Kim Jong Il, Muammar Kadaffi(ou seria Gadaffi? Ou seria Al-Gadafhy? Ou...) até, sim, Amy Winehouse, José Alencar e Itamar Franco, meu xará. Mas a morte definitiva do ano é sem dúvida a de Osama Bin Laden, nas mãos do Seal Team Six, que, eu diria, conclui a década de 2000, aberta por ele 10 anos antes e da qual ele havia sido talvez o maior símbolo.

E 2012, como fica?
Talvez para sempre lembrado como o ano do apocalipse fail, 2012 foi também um ano interessante. Quem imaginava que Barack Obama seria reeleito, após a montanha de críticas acumuladas à ele? Quem diria que Chávez conseguiria de novo, e que Fernando Lugo iria pra vala, e que haveria um novo golpe na América Latina? Quem imaginava que o Dubstep seria abraçado pelos ouvintes do mundo? Que as Spice Girls voltariam durante as Olimpíadas de Londres, e, principalmente, que as Olimpíadas de Londres fossem ser o inesquecível e colorido festival de autodepreciação que foram? Que mandaríamos um robô para Marte, e que um homem pularia do espaço, e o vídeo de um coreano gorducho dançando em um cavalo invisível fosse acumular 1 bilhão de visualizações?
Eu, sem dúvida, não. Só o que eu sabia é que o mundo não iria acabar.
(Ganhei dez reais nessa aposta)
Então, um feliz 2013, um feliz recomeço civilizacional, um feliz realinhamento, uma feliz mudança de paradigma, breve, como os hippies cantavam, uma feliz Era de Aquários à todos vocês!

Franco Alencastro vai assistir o filme "2012" no primeiro dia de 2013, só pra dar umas risadas.







quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Presente de Natal atrasado!

Quando eu era criança, o natal era algo sensacional. A família toda se reunia, todos trajavam suas melhores roupas e minha mãe punha na mesa os melhores pratos, a melhor toalha de mesa, os melhores copos, todos adequadamente lavados da poeira acumulada dos exatos doze meses de desuso.
Após muita lenga-lenga, nós nos sentávamos em volta de uma farta mesa e íamos cambaleando(os adultos, por causa do álcool; e eu só imitando) até a mesa do lado onde reluzia a prataria mas principalmente estava depositada toda a gloriosa comida que, assim como os pratos, eu só ia ver no ano seguinte. Pernil, bacalhau, pudim de batata(sim, isso existe), farofa, todas essas maravilhas gastronômicas. E todos comíamos e riámos felizes, tendo esquecido todos os problemas passados e esqueletos no armário que havíamos passado o ano inteiro brandindo uns contra os outros.
A apoteose, claro, vinha na manhã seguinte, quando eu e meus irmãos éramos acordados ao mesmo tempo aos gritos alegres de "Acordem! É Natal! O Papai Noel passou!". Enquanto eu me deliciava com as rabanadas cobertas de açúcar, notaria satisfeito que naquele ano eu provavelmente havia sido uma criança bem-comportada, já que debaixo da frondosa árvore de natal havia vários presentes, alguns geniais(um robô!), outros inusitados("Mas o que raios eu vou fazer com uma cítara?" A parte triste é que, seis anos depois, ainda não sei)
Vocês provavelmente esperam que eu diga como isso tudo ficou diferente. Como tudo isso acabou, e agora, eu vivo em um casulo cinzento de tristeza tristonha e triste, mas eu vou dizer o seguinte. Nada mudou. Bom, eu até não recebo mais presentes debaixo da árvore, mas esse não é o ponto. O ponto é que, talvez seja clichê, mas crescer tira um pouco a beleza das coisas(eu ia escrever envelhecer, daí eu lembrei que eu nem dirijo ainda). A ceia nunca vai ser tão impressionante, as decorações nunca vão ser tão bonitas, e, claro, o Papai Noel não existe, e, mesmo se existisse, já teria entrado em combustão por viajar à uma velocidade superior à da luz. 
É claro que, vendo uma coisa várias vezes, ela fica menos impressionante. Já viu algum carioca que se preze impressionado com o Cristo Redentor, mesmo de perto? (Não ajuda o fato de ser uma estátua meio estranha). As condições podem não mudar, muda apenas o ponto de vista, antes fresco e novo, hoje cansado. Ainda assim, mesmo sabendo que nada mudou... como eu queria voltar pra trás.
Deixando de lado esse saudosismo mela-cueca, o verdadeiro motivo é que vocês, leitores, me deram um presentão de Natal! Bom, não exatamente, já que ele chegou hoje, dia 26, mas, close enough. Vocês me deram nada menos que mil visualizações nesse blog, talvez a coisa que mais me orgulho de ter feito esse ano. E por isso, eu agradeço à vocês!
Mas, desculpem-me, tenho que ir embora agora. Aquelas sobras de pudim de batata não se comem sozinhas.

Franco Alencastro sempre quis chegar para uma prostituta nos EUA durante o Natal e dizer "Ho, ho, ho!"

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Lista de Chamada- Parte XI

(PATRÍCIA pega a caneta. Vemos uma cicatriz no seu pulso. Ela faz o clique na caneta, o que nos permite cortar para:
CENA 13/ INT. SALA DE AULA, DIA

(Um braço de criança está exatamente na mesma posição do de PATRÍCIA. Ainda não tem cicatrizes. O esquema de cores é o mesmo do flashback anterior.)
(Corte para PATRÍCIA filmada de perfil. Um professor fala qualquer coisa no fundo.)



CAIO
(pegando a caneta)
Ei, me passa isso aqui um instante.

(CAIO bota um elástico na caneta e monta um estilingue.)

PATRÍCIA
(sussurrando)
O que você ta fazendo?

(O professor se vira.)

PROF. SCARLOTTI
Patrícia, é a última vez que eu te digo pra ficar quieta. Isso aqui é uma aula, não um zoológico.(Volta à se virar pro quadro)

CAIO
É o que veremos.

PATRÍCIA
O que você vai fazer?

CAIO
Veja e aprenda.

(CAIO solta o estilingue, que acerta a cabeça do professor. Este para de escrever no quadro, ficando imóvel por alguns segundos.)

PROF. SCARLOTTI
(filmado de frente para o quadro)
É a décima vez essa semana. Se eu pegar o pestinha que fez isso, eu vou fazer o possível para mandar ele não pro diretor, e sim pra porra de um reformatório!

(A sala fica chocada pelo palavrão.)

PROF. SCARLOTTI
Ah, brincadeira! Vocês falam palavrão o tempo todo e ficam chocados quando eu faço o mesmo! Geração de hipócritas! Vamos, quem foi!

(CAIO faz um sinal para BOLA)

IDEM
(apontando o dedo para PATRÍCIA)
Você. Você tem cara de que sabe quem foi.

PATRÍCIA
(gagueja)
E-eu...

PROF. SCARLOTTI
Anda, desembucha, eu não tenho o dia todo. Posso segurar vocês aqui por quanto tempo for necessário.
 
PATRÍCIA
E-eu...

(nessa hora a câmera começa a filmar a boca dos personagens)

PROF. SCARLOTTI
Vamos anda logo!

PATRÍCIA
Eu... Eu não sei!

PROF. SCARLOTTI
É mentira! Veio da sua direção!

PATRÍCIA
Professor, eu juro!

(volta-se a filmar a cabeça de Scarlotti.)

PROF. SCARLOTTI
É menti...

(A cabeça de SCARLOTTI é atingida por um elástico)

IDEM
Mas não é possível!

(um novo elástico vem de outro lado)

IDEM
(gagueja)

(O sinal toca. A sala começa à se agitar para sair, muito barulho é feito. Nesse momento, Scarlotti bate com a mão na mesa, derrubando uma pequena escultura de peixe, um arenque vermelho, e fazendo o silêncio retornar.)


IDEM
Não tão rápido. Já que o delinqüente não se entregou, vou guardar duas pessoas aqui comigo. Vão ser vocês, Neves, e Patrícia.

(Corte para PATRÍCIA quando o seu nome é pronunciado)

PATRÍCIA
O que? Mas eu...

PROF. SCARLOTTI
Eu não perguntei se você fez qualquer coisa. Se o seu amiguinho delinqüente não se entregar, vocês vão ficar na detenção por culpa dele.

PATRÍCIA
Mas é injusto!

PROF. SCARLOTTI
(Virado para o quadro)
A vida é injusta.

(Um elástico o atinge.)

IDEM
Certo, não vai se entregar? Que tal agora, hein, delinqüente? Ou prefere que seus amiguinhos paguem pelos seus erros?

(CAIO se levanta e sai. Não vemos o seu rosto)

Não Olha pro Lado, quem tá passando é o Bond: Uma homenagem à 007

Tenho que admitir: Tenho uma obsessão pontual com 007.
Ênfase no "pontual", porque, como para muitas pessoas, essa obsessão tende à acontecer de cada dois à quatro anos.
Caso você não saiba, esse tende à ser o espaço de tempo entre o lançamento dos filmes da Saga 007, que é um termo incorreto, mas eu uso mesmo assim. A obsessão dura umas duas ou três semanas e depois subitamente morre, como, sei lá, gripe comum.(Talvez essa gripe se cure com um bom martini, ao invés de suco de laranja) Assim, quis escrever esse texto antes que meu interesse morresse, embora estou com a impressão que essa coluna já nasceu fadada ao esquecimento.
O que nos atrai em James Bond? O que, 50 anos após sua estreía nas telas, faz com que as pessoas continuem religiosamente voltando ao cinema, num tipo de peregrinação, para assistir às últimas aventuras do agente secreto mais querido da cultura pop?
Parcialmente, eu diria que todo mundo já sabe mais ou menos o que vai ganhar com um filme de James Bond. Em um mundo em que tudo parece em constante polvorosa, uma segurança desse tamanho não se vende barato. James Bond ainda é, em larga medida, o mesmo cara que se apresentou, com um cigarro na boca, como Bond, James Bond, em 'O Satânico Dr. No' hà 50 anos. Elementos do filme- o smoking, o martini 'batido, não mexido', os carros, as infelizmente sempre descartáveis(e frequentemente descartadas) Bond Girls, as frases de efeito, as armas tecnológicas, as cenas de ação de introdução, seguidas por um videoclipe embalando os créditos iniciais... eu poderia passar o dia todo enumerando os elementos dos filmes de James Bond que já fazem parte das nossas vidas e do centro nervoso da cultura pop. Cada filme de James Bond, assim, já está praticamente feito antes que se começe a filmagem, e cada diretor tem que operar dentro de uma(bastante estreita) margem de manobra. Sempre que algum desses elementos é retirado ou meramente alterado, ocorre uma revolta popular.
Ditas essas palavras iniciais, eu quero chegar ao ponto principal do texto: os filmes são bons? A resposta: não sei, não vi todos- não tenho tempo de ver 23 filmes, tolinhos! A única base de comparação que tenho são as já mencionadas músicas que abrem os filmes. Dessas sim, já ouvi todas, em sessões compulsivas de busca pelo Youtube. E dou para vocês, meu julgamento sobre os últimos 50 anos de Bond, James Bond com base em suas músicas.

"Tema de Bond" de 007 Contra O Satânico Dr. No (1962)
John Barry Orchestra
O clássico, o inesquecível. Sim, é o tun-dun-dun-dun, dun-dun-dun-dun-dun-dun, dun-dun, TANÃM, TANANA! É difícil julgar uma música icônica como essa de forma neutra, mas fazendo o meu melhor, posso dizer que traduz tudo aquilo que James Bond representa- a finesse, o mistério, a sensação de uma ameaça secreta que pode atacar a qualquer momento(Sim, é a parte do TANÃM). Tem até um pouco de surf rock, algo pioneiro para um filme da época.
Nota Final: 10/10

"Tema de From Russia With Love" de Moscou Contra 007 (1963)
John Barry Orchestra
Mais uma música instrumental, não tão inspirada quanto sua antecessora, mas interessante mesmo assim, e, eu diria, injustamente esquecida pela história. Ainda assim, é muito parecida com sua antecessora para ser uma música realmente interessante- uma crítica também frequentemente apontada aos filmes de James Bond.
Nota Final: 7.5/10

"Goldfinger" de 007 Contra Goldfinger (1964)
Shirley Bassey
A música de James Bond que todas as músicas de James Bond querem ser. Esta pérola da grande Shirley Bassey entrou com justiça para a história, e o filme que a acompanha é também considerado o melhor de todos os filmes da série. A provocante combinação dos instrumentos de sopro com a voz sensual de Bassey produz uma música sexy, enigmática, que chega ao ápice nas notas finais ("He loves only GOOOOOOOLD"). O sinuoso e inventivo uso dos instrumentos de corda ajudam à tornar essa uma das músicas mais memoráveis dos filmes.
Nota Final: 10/10

"Thunderball" de 007 Contra a Chantagem Atômica (1965)
Tom Jones
Estou notando um padrão aqui. música boa, seguida de música menos boa, seguida de música boa. A composição no geral é pouco inspirada, e não há muito o que dizer. Tom Jones, aparentemente, desmaiou nas notas finais da gravação. O que eu posso dizer após ouvir o resultado final é: Não era para tanto, Tommy.
Nota Final: 7/10

"You Only Live Twice" de Com 007 Só Se Vive Duas Vezes (1967)
 Nancy Sinatra
A música mais anos-60 de James Bond é também uma das melhores. Nancy Sinatra mostra que sabe cantar sobre muito mais assuntos do que botas e empresta seus vocais felinos à essa sensacional balada, embalada por uma guitarra vagamente psicodélica, que empresta uma pegada oriental à música, o que é apropriado para o filme, que se passa no Japão. O crescendo no final sempre me dá calafrios quando eu a escuto.
Nota Final: 10/10

"Tema de On Your Majesty's Secret Service" de 007 A Serviço de Sua Majestade (1969)
John Barry Orchestra
Mais um tema instrumental, e um que parece mais que um bocado com a chamada da 'Voz do Brasil', um plágio que levou o filme à ser banido pelo regime militar. Tá, não, mas vai dizer que não é parecido. A música, em todo caso, mais uma vez traz mistério e uma certa seriedade e senso de iminência ao filme- talvez a iminência da demissaõ de George Lazenby, que, como James Bond, só fez esse filme.
Nota Final: 8/10

"Diamonds Are Forever" de 007- Os Diamantes são Eternos (1971) 
Shirley Bassey
Shirley Bassey retorna, com um número *bastante* menos inspirado que Goldfinger, com um ritmo mais lento e meloso. Enquanto que sua investida interior no mundo de James Bond contava com força e auto-afirmação, essa parece um tanto... gelatinosa. É também a primeira música a quebrar o padrão da 'música boa, música ruim', para o bem ou para o mal.
Nota Final: 7/10

"Live and Let Die" de Com 007 Viva e Deixe Morrer (1973)
Paul McCartney
A chegada de um novo ator, Roger Moore, à cadeira de Bond traz renovação à série, que andava cansada- e isso pede ninguém menos do que o ex-Beatle Paul McCartney, para remexer as coisas musicalmente falando. Ele consegue, com a emocionante "Live and Let Die", que começa parecendo algo lento e calmo como "Let it Be"(talvez uma brincadeira com o título?) mas, após alguns acordes poderosos, se torna a trilha sonora de uma perseguição de carros. E eu ainda achava que era do Guns 'N Roses.
Nota Final: 9.5/10

"The Man With The Golden Gun" de 007 Contra O Homem da Pistola de Ouro (1974)
Lulu
Puta Merda, eu odeio essa música. Quer dizer, ela começa promissora, com alguns instrumentos de corda, que, parece, vão tornar essa música melhor até do que a perseguição de carros de "Live and Let Die"- e daí a Lulu começa à cantar. Sua voz consegue ser esganiçada e anasalada ao mesmo tempo e lembra a do moleque do 'Atóron Perigón'. Os acordes agressivos salvam essa música de ser um fiasco amargo.
Nota Final: 6.5/10

"Nobody Does It Better" de 007- O Espião que Me Amava (1977)
Carly Simon
Eu não tinha ideia de que essa música era de um filme, quanto mais de James Bond. Carly Simon empresta sua voz á uma música que pode ser descrita simplesmente como apaixonante. Eu acho que não consigo descrever como essa música transmite bem o sentimento de estar apaixonado então vou deixá-los apenas com a foto de um porco.
 http://www.institutohypnos.org.br/wp-content/uploads/2009/04/porco.jpg
A bateria e a letra tinham tudo para tornar essa música cafona, mas por algum motivo além da minha compreensão, ela soa muito bem. Esse estilo de música foi copiado poucas vezes depois em outros filmes de 007, e com razão- quando se chega ao auge dessa forma, produzir qualquer outra coisa parecida sempre vai parecer um desapontamento. Carly Simon assim, mais uma vez, prova que "ninguém faz melhor" que ela, e nos entrega uma das melhores baladas dos anos 70.
Nota Final: 10/10 

"Moonraker" de 007 Contra O Foguete da Morte (1979)
Shirley Bassey
Porra Shirley, você de novo! ...Enfim, Shirley Bassey entrega outra música pouco inspirada, e extremamente cafona, até para o padrão dos anos 70. Esse, por coincidência, é também considerado o pior filme da série 007, e com basse nesses 3 minutos, posso entender porque.
Nota Final: 6/10

"For Your Eyes Only" de 007 Somente Para Os Seus Olhos (1981)
Sheena Easton
Ah tá, pera, essa música consegue ser mais cafona que Moonraker. Porra, beleza. Lembra quando eu disse que poucos tentaram copiar o estilo de balada de Carly Simon? Essa é uma dessas músicas que tenta, e fracassa terrivelmente. A cafonice é insuportável e a música consegue ser mais melada do que gel de cabelo(leia-se: muito) e não traz nenhuma da sensualidade ou paixão das músicas anteriores, parecendo mais alguma coisa que foi colada com cuspe, parte por parte, em um grande estúdio de uma gravadora gananciosa buscando um sucesso fácil para as rádios. Essa aqui não sobreviveu o teste do tempo, e com razão. Aliás, esqueça "Moonraker"- só com base nessa música eu diria que esse sim deve ser o pior filme de 007.
 Nota Final: 4/10

"All Time High" de 007 Contra Octopussy (1983)
Rita Coolidge
Não tenho ideia sobre o que esse filme fala, mas com base no título digo que deve ser um lixo. A música não consegue ser muito melhor- é bastante melosa, mas felizmente executada com mais competência e por uma cantora muitas vezes melhor. 
Notal Final: 5.5/10

"A View To a Kill" de 007 Na Mira dos Assassinos (1985)
Duran Duran
Essa época é considerada o período negro de 007, com o estúdio EON lançando filme ruim após filme péssimo, à cada dois anos, com um Roger Moore que já beirava os 60 anos. Os produtores bem que tentaram rejuvenescer a franquia chamando a então banda hype Duran Duran para fazer a música-tema do filme, com resultados... medianos. Bom, sem dúvida é melhor que os anteriores, mas não muito. Continua parecendo um pop industrializado e sem muita relação com a imagem de James Bond, e que consegue, de mabeira muito tosca, encaixar o título do filme no refrão, algo que TODAS as músicas tentavam fazer nessa época, com graus variados de sucesso.  É relativamente dançante, o que lhe garante uns pontos.
Nota Final: 6/10

"The Living Daylights" de 007 Marcado Para a Morte (1987)
A-Ha
Ah, os anos 80, época em que fazia sentido chamar o A-Ha pra fazer um filme de James Bond. Essa música também parece mais um single do A-Ha do que propriamente uma música de 007, mas isso é relativamente bom, porque uma música-do-A-Ha-sendo-uma-música-do-A-Ha é melhor do que uma música do A-Ha tentando ser uma música de James Bond, o que eu acho que não daria certo. Ela também é relativamente mais inspirada que a anterior, mas de novo, não muito.
Nota Final: 6.5/10

"Licence To Kill" de 007- Permissão para Matar (1989)
Gladys Knight
Cacete. Agora, isso sim é uma música que só pode ser cantada por uma negona. Enfim, por onde começar? A voz poderosa de Knight dá um caráter inconfundível à essa música, assim como o início orquestral(que, devo adicionar, também sempre me dá calafrios). A música é cafona, mas isso é perdoável pela forma criativa como Knight dialoga com a orquestra, deixando ela intervir em momentos chave(como no pan-panpan-pan-pan-pan! Tá, eu não sei descrever músicas), e também é perdoável porque são os anos 80, e tudo acaba sendo cafona de uma forma ou outra. Essa é uma das poucas músicas feitas após os anos 60 que consegue realmente capturar o espírito de James Bond- o amante incorrigível, o gentleman fino, mas também o assassino implacável.
Nota Final: 10/10

"Goldeneye" de 007 Contra GoldenEye (1995)
Tina Turner
Meh. Nunca sei muito o que dizer dessa música.  Depois de "Licence To Kill" acho que tudo ia parecer meio fraco, mas até a suposta sensualidade dessa música me deixa me sentindo meio distante. A introdução animada, com suas estátuas soviéticas em ruínas, é quem realmente leva o prêmio, por mostrar que o velho mundo havia acabado e deixar claro que James Bond agora estava em território não-explorado: o mundo do pós-Guerra Fria.
Nota Final: 7/10

"Tomorrow Never Dies" de 007- O Amanhã Nunca Morre (1997)
Sheryl Crow
Sempre tive um fraco pela Era Pierce Brosnan, parcialmente porque cresci com ela, mas também porque os nomes dos filmes eram muito legais. Esse, provavelmente, tem o nome mais legal de todos, embora não signifique muita coisa. A música lembra uma versaõ menos afetada de "For Your Eyes Only": a cantora tem uma voz estridente e forçada, mas por algum motivo, eu não odeio essa música. Talvez o uso agressivo das cordas na introdução seja sua salvação, ou o fato da letra ser também muito interessante, de novo, talvez a melhor de todas. Uma música irregular, com altos e baixos, mas que tem uma atmosfera pesada de "diva" que a favorece. 
Nota Final: 7.5/10

"The World is Not Enough" de 007- O Mundo Não É O Bastante (1999)
 Garbage
O filme em si é bem medíocre,  mas a música... A banda Garbage, uma de minhas favoritas, mais uma vez prova que não merece esse nome e entrega talvez a música com a cara mais clássica de todos os Bonds, que parece ter saído fresquinha de um cabaré dos anos 50. Shirley Manson arrasa nos vocais em um momento de diva, e, apesar da letra ser repetitiva, consegue eriçar os pelos do meu pescoço quando canta as estridentes notas finais da música. As cordas- sempre elas- mais uma vez elevam a música à um outro patamar.
Nota Final: 10/10

"Die Another Day" de 007- Um Novo Dia Para Morrer (2002)
Madonna
Aí não é justo. Todo mundo já zoou tanto essa música que eu não tenho nada que eu possa dizer sem soar repetitivo. Enfim, vou tentar resumir: em uma patética tentativa de reinvenção, chamam Madonna para fazer uma música tão futurista que acho que só vai ser apreciada puramente daqui á 20 anos. Talvez seja legal como experimento, mas no filme, ficou bizarro- a música não tem nada à ver com James Bond, e em alguns momentos soa discordante, irritante e pretensiosa. Techno demais pro meu gosto. O filme também tentou se reinventar, trazendo um satélite com um laser que destruía tudo, um Aston Martin invisível, um palácio de gelo e um vilão norte-coreano que faz uma cirurgia pra virar branco. Eu queria muito estar inventando isso, mas não estou. Essas invencionices não foram bem-recebidas por ninguém, dando um fim inglório à Era Brosnan e levando á uma nova reinvenção...
Nota Final: 6/10

"You Know My Name" de 007- Casino Royale (2006)
Chris Cornell
Hoje é dia de rock, bebê! Chris Cornell, do Soundgarden, entrega a música de abertura mais rock 'n roll de todas, com os instrumentos de corda fazendo as vezes de uma guitarra agressiva que conquistou meu coração nas primeiras notas. Não há muito à dizer, além de que se trata de um clássico instantâneo. Em uma nova era de realismo, Bond se desfaz das canetas explosivas e abraça uma nova identidade. Ele não diz mais "Bond, James Bond", pois nós "já sabemos o seu nome."
Nota Final: 10/10

"Another Way To Die" de 007- Quantum of Solace (2008)
Jack White e Alicia Keys
Essa costumava ser a minha música de abertura favorita, e ainda considero uma das melhores. Ela recria a vibe clássica de músicas como "TWINE"  e a alia à agressividade do rock de "You Know My Name", com Alicia Keys auxiliando com seu poder vocal nas notas que White não alcança. Um luxo, assim como o filme, que, infelizmente, não é tão querido pela maioria.
Nota Final: 9.5/10

e, finalmente...
"Skyfall" de 007- Operação Skyfall (2012)
Adele
Talvez o filme de James Bond com o nome mais legal desde a Era Brosnan, Skyfall traz mais um tema de inspiração clássica, muito apropriado para uma série que sopra 50 velinhas esse ano. A poderosa voz de Adele faz essa música, com cara de hino funerário, alcançar outro nível. Apesar de seu caráter funesto, Skyfall prova que James Bond está mais renovado que nunca, e vai continuar entretendo gerações.
Nota Final: 9/10

E é isso. Nossa, isso foi bem mais longo e trabalhoso do que eu imaginei que seria.
PS: Para quem quer escutar todas as músicas, mas está com preguiça de procurar, esse vídeo já dá uma ideia boa de como elas são, assim, se vocês lerem bem rápido o que eu escrevi, podem até ler sobre a música enquanto ela toca! Porque não?

Franco Alencastro acha que o "Bonde do Tigrão" deveria ser usado como a próxima música de abertura de James Bonde, digo, Bond.



 


terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Crítica: O Hobbit (EUA / Nova Zelândia, 2012)

ATENÇÃO: Este post traz spoilers do filme 'O Hobbit', que talvez você devesse ver, ao invés de perder seu tempo lendo esse blog.

 https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMZp07jyjmpaP8X89IZTbL86aMfsd31JN49YfiaHYXpX0V9seECENk-rYH3wsxB4oxEn5XJBMtAMIqvy0-zgRmMHuNg5_P-yjAkjymxKkCNvOTSSwMnIuUwr5rXlsGT0lTWXwMKhktw7_O/s1600/O-Hobbit-30ago2012-01.jpg
 O lado positivo: Efeitos Visuais, atores, pastiche de Cidade de Deus, Gollum!
O lado negativo: ZZZZZZZ...

Nove anos após deixar a Terra-Média, o produtor/diretor/mago dos efeitos especiais Peter Jackson retorna ao mundo que tão vividamente trouxe para a tela do cinema em grande estilo. 
Muitas dúvidas pairavam a estréia do filme- particularmente as dúvidas expressas vocalmente por fanboys como eu. Como dividir um livro de 300 páginas, e pertencente ao pouco épico(bom, em todo caso menos épico que O Senhor dos Anéis) mundo da literatura infantil, em 3 filmes de 3 horas? E... bom, pra ser sincero, essa era minha grande dúvida mesmo. Até tive medo de admitir para meus correligionários, mas, quando me sentei para assistir O Hobbit, em uma das últimas sessões do dia de estreía(porque assistir na primeira é coisa de poser excessivamente preocupado com sua credibilidade underground) estavam preocupado que o filme acabasse sendo, bom, fraco como leite em pó diet muito diluído.
Posso contar para vocês, companheiros de blog, que este não é o caso, e contarei isso dividindo essa crítica em algumas partes, como vestígio da cartesiana forma de organização que herdei da Escola Francesa.
Visualmente, é o melhor filme do ano. Batalhas entre montanhas que ganham vida, o interior de uma cidade de esmeralda cavada na montanha, uma perseguição ágil em uma cidade-favela de goblins que parece saída de Cidade de Deus, o ataque de um dragão à uma cidade inocente sob os olhos indiferentes dos Elfos, e EU JÁ MENCIONEI A PORRA DA BATALHA DE MONTANHAS?! Se isso não ganhar um Oscar, eu não sei o que vai. Talvez, ok, A Viagem(esse título em português me dá um asco que eu vou te contar), que, pelo que eu soube, tem uns efeitos legais, mas estou tergiversando. O que vocês precisam saber é: 'O Hobbit' tem efeitos visuais melhores até do que o Senhor dos Anéis, o que não é pouca coisa. Efeitos visuais não fazem um filme, claro, como a galerinha-aí-que-odeia-Avatar insistentemente vai lembrar- mas a direção de arte nesse filme é TÃO competente que eu não sei por onde começar. Talvez os detalhes, que nem sempre me chamam atenção, porque, bom, são detalhes, mas esse filme é uma exceção: coisas simples como o goblin-datilógrafo preso em uma correia móvel, anotando as falas do Rei Goblin á la Jabba the Hutt me conquistaram imediatamente(eu faria uma comparação estilo Vestibular está-para-Y-comoY-está-para-X entre o Rei Goblin e seu datilógrafo e Jabba the Hutt e seu bichinho marrom e orelhudo, mas, como vocês podem ver, não sei o nome do segundo).
Ação, diálogos, música... tudo que é produção no filme é fantástico. Jackson, com segurança e fleuma digna de Gandalf, nos conduz em um passeio de montanha-russa, embalada por uma senhora trilha-sonora(ih rimou) e diálogos inteligentes entre a colcha de retalhos que é a Companhia dos Anões(as opposed to Companhia dos Anéis, rêrê, adoro trocadilhos). Alguns personagens dignos de nota: Radagast, O Castanho, é fã de Bob Marley e vive na floresta. Tá, não, mas é verdade que já no livro(eu só li O Silmarillion, mas ele já aparecia lá) ele era um cara que você podia imaginar gritando "420!" às 16h20 em ponto, e suas cenas no filme são hilárias, um mago desleixado e hippie como contraponto à seriedade de Gandalf. Ele também dirige uma carruagem conduzida por coelhos, o que, caso você não saiba, é foda, e ai de quem disser o contrário. 
É claro, nem tudo que é ouro brilha, embora o anel, é verdade, brilhe pra cacete. O filme é longo, e quando eu digo longo, eu digo isso como alguém que adora 'O Senhor dos Anéis' e já assistiu o filme várias vezes, e portanto está acostumado à assistir maratonas de 9 horas(bom, tá, talvez cinco, depois eu volto pra internet reclamar da vida como qualquer ser humano). Teve momentos em que eu fiquei olhando para o meu relógio para ver se o filme ia acabar logo. Nenhum filme deveria sujeitar seu espectador á isso. É claro, Jackson tem uma história à contar, mas se ele não consegue contar ela de uma maneira que me impeça de parar de prestar atenção no filme para pensar se fora do cinema já é o dia 21 de Dezembro e o mundo já acabou e só nós que estamos vendo o filme sobrevivemos ao apocalipse, então é problema dele.(Ele também podia contar a história de uma forma que não envolvesse eu ter que comprar três ingressos inflacionados, mas acho que isso sim é pedir demais) As limitações da própria estória aparecem com o tempo- eu nunca consegui me importar muito com os anões, já que eles são, o que, uns doze e são todos parecidos, além do que mesmo com a duração do filme cada um só tem umas cinco falas, e assim mal dá tempo de desenvolver a personalidade de cada um, no meio de tantas perseguições com o Zé Pequeno Goblin e PUTA QUE PARIU AQUELA LUTA DE MONTANHAS FOI MUITO FODA.

Nota final: 9/10.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Lista de Chamada- Parte X

CENA 12/ INT., ESCADA

(CAIO está subindo a escada. A porta do andar de baixo se abre e vemos PATRÍCIA.)

CAIO
É melhor você subir. Não quer ficar sozinha, né?

PATRÍCIA
(tremendo)
Não.

(Vemos um plano que pega PATRÍCIA de costas, da direita para a esquerda. Com o braço ditreito, ela está segurando a porta. O outro está apoiado em cima da parede, segurando uma caneta. Close na caneta. Corta para o rosto de PATRÍCIA, que se vira, tremendo, para a caneta. Com o dedo tremendo,  ela aperta o botãozinho “clique” que faz sair a ponta da caneta. O plano volta para dentro da escadaria. )

PATRÍCIA
Já estou chegando.
 
CAIO
Você tem medo, não é?

PATRÍCIA
O que?

CAIO
Acha que eu te trouxe aqui por algum motivo. Que talvez eu esteja conectado ao assassino.

PATRÍCIA
Não tenho culpa.

CAIO
Ah, quer dizer então que você acha que eu sou o assassino agora? Que eu botei veneno nos biscoitos?

PATRÍCIA
Sabe aquilo que eu disse sobre o Armando não ser uma boa pessoa? (corte breve para CAIO, que não diz nada) Se aplica à vocês também.

(PATRÍCIA pega a caneta. Vemos uma cicatriz no seu pulso. Ela faz o clique na caneta, o que nos permite cortar para:



segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Lista de Chamada- Parte IX

CENA 11/ INT. DIA, CORREDOR

(PATRÍCIA se prepara para seguir os outros. Foco na mão dela, e uma outra mão a pega.)

                                                                                 CAIO
                                                                               (voz off)
Espera.

(Zoom-out e vemos que é de fato a mão de BOLA segurando a de PATRÍCIA. Os braços estão esticados e a posição é meio dramática. Corte para o rosto de PATRÍCIA.)

                                                                             PATRÍCIA
O que é isso?

                                                                                CAIO
Preciso que você venha comigo.

(Corte de novo para a mão, que PATRÍCIA consegue soltar de CAIO)




                                                                             PATRÍCIA
Por que?

                                                                                CAIO
Preciso entender porque e como você conhece tanto sobre todo mundo. Pode ser a chave para a gente resolver esse mistério.





(Corte para o rosto de PATRÍCIA sem que esta diga nada.)


                                                                                CAIO
Anda, vamos subir pela outra escada.

(CAIO se vira e começa à andar. Ele é filmado brevemente de costas enquanto anda, e bota a mão nos bolsos do casaco. Corte rápido para o rosto de PATRÍCIA, e de volta para o casaco de CAIO enquanto este retira uma faca. Corte de volta para O rosto de PATRÍCIA, que que pisca os olhos rápido. Corte de novo para o casaco, ainda com as mãos no bolso. Sim, isso foi uma ilusão.)


domingo, 9 de dezembro de 2012

Lista de Chamada- Parte VIII

CENA 10/ INT. DIA, CORREDOR

(Um corte súbito para o rosto de ANNA, recostada na parede. Ela olha para baixo. Versões mais curtas desse shot fácil são feitas com todos os outros membros da gangue. Voltamos então para ANNA.)

                                                                         ANNA
                                                                (dando de ombros)
Bom, ta bom, ta bom, ele era mau. Mas o que isso significa? Só porque você é mau, você sai matando de repente? Isso não faz sentido.

                                                 (bebe de um copo de Matte com canudo)

Porque, afinal, envenenar pessoas que não tem nada à ver com ele?

                                                                            BOLA
                                                                        (para CAIO)
Pera, onde ela arranjou isso?

                                                                            VÍTOR

Talvez não devêssemos pensar tanto em causas agora. Temo que encarar os fatos. Tem um assassino à solta nessa escola. E a única coisa entre ele e nós é... Bom, nada.

PATRÍCIA
(duvidosa)
Você sugere então que a gente imagine o que ele vai fazer?

VÍTOR
Perfeito! Boa, Vandinha.

(PATRÍCIA olha para o lado, lacônica.)

VÍTOR
É nisso que temos que pensar. Qual seria o próximo passo dele?

BOLA
Po, sei lá. Tentar nos matar?

CAIO
(de repente fala, surpreendendo todo mundo)
Mas ele já não teria feito isso?

VÍTOR
(olha, impressionado)
Olha só, ele também tem opinião.

CAIO
Bom, ele não teria nos matado já se realmente quisesse? Afinal, ele matou o Felipe e o SUPERVISOR.

VÍTOR
(levanta o dedo e permanece em silêncio, com a boca aberta por um tempo, antes de falar)
Biscoitos.

CAIO
(levanta também o dedo e fica de boca aberta, mas logo abaixa o dedo e fica com um olhar confuso.)
Pera, oi?

ANNA
Uuuh, momento Monty Python.

VÍTOR
Deixa eu explicar. O Armando na verdade não nos matou, porque não tinha como faze-lo. Só o que ele tinha eram biscoitos envenenados, o que é engenhoso, mas não funcionou quando nenhum de nós comeu.

BOLA
Olha, raciocínio intrigante.

ANNA
É, ninguém esperava essa resolução espanhola.

(BOLA dá um olhar de desdém às referências infames.)

ANNA
Mas ele tem um ponto.

VÍTOR
(andando em direção à tela enquanto todos ficam atrás dele)
Então, se seguirmos esse raciocínio, ele deve ainda estar na escola, procurando um meio para nos matar. À. Todos.

BOLA
Brilhante! E... o que você propõe?

VÍTOR
(e então se virando)
Eu, ham... Não sei.

CAIO
Bom, eu sei de algo que podemos fazer.

(CAIO vira o rosto, e aponta-o para o telefone público na parede do corredor que, antes fosco, agora está nítido)

BOLA
(dando de ombros)
É, parece uma boa idéia.

PATRÍCIA
Foi a melhor até agora.

VÍTOR
Bom, isso é conveniente.

(As luzes subitamente se apagam.)

VÍTOR
Isso já não é.

BOLA
Mas que porra foi essa?

(silêncio)

CAIO
Acho que eu sei o que aconteceu.

(uma luz de celular ilumina parciamente o corredor. ANNA segura ele debaixo do queixo, fazendo aquela coisa com a lanterna supostamente assustadora)

ANNA
Uuuuuuuu.

VÍTOR
Bom, você disse, então, Caio?

CAIO
A energia caiu. À menos que isso tenha algo à ver com a chuva, isso quer dizer que ele cortou a energia, e que portanto ainda está aqui.

VÍTOR
Bom, mas o que fazemos agora?

PATRÍCIA
Eu sei onde ele pode estar.
 
ANNA
(ainda com o celular)
Ah, saco, nunca vamos encontrar esse cara, ou escapar daqui.

PATRÍCIA
Mas eu sei onde ele está.

ANNA
(entrando em desespero)
Vamos todos morrer! Fudeu! Sem eletricidade, sem celu... Pera, que?

PATRÍCIA
É, eu sei onde ele deve estar.

VÍTOR
Bom, onde?

PATRÍCIA
Se ele acabou de cortar a energia, deve estar perto da caixa de força. Fica perto da sala dos professores.

BOLA
Bom... Sala dos professores então?

VÍTOR
Acho que sim.

(Todos são filmados de perfil enquanto andam no corredor em direção à porta)

ANNA
Pera, mas não temos armas!
 
BOLA
Ah é, tenho muito medo daqueles biscoitos.