quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Não Olha pro Lado, quem tá passando é o Bond: Uma homenagem à 007

Tenho que admitir: Tenho uma obsessão pontual com 007.
Ênfase no "pontual", porque, como para muitas pessoas, essa obsessão tende à acontecer de cada dois à quatro anos.
Caso você não saiba, esse tende à ser o espaço de tempo entre o lançamento dos filmes da Saga 007, que é um termo incorreto, mas eu uso mesmo assim. A obsessão dura umas duas ou três semanas e depois subitamente morre, como, sei lá, gripe comum.(Talvez essa gripe se cure com um bom martini, ao invés de suco de laranja) Assim, quis escrever esse texto antes que meu interesse morresse, embora estou com a impressão que essa coluna já nasceu fadada ao esquecimento.
O que nos atrai em James Bond? O que, 50 anos após sua estreía nas telas, faz com que as pessoas continuem religiosamente voltando ao cinema, num tipo de peregrinação, para assistir às últimas aventuras do agente secreto mais querido da cultura pop?
Parcialmente, eu diria que todo mundo já sabe mais ou menos o que vai ganhar com um filme de James Bond. Em um mundo em que tudo parece em constante polvorosa, uma segurança desse tamanho não se vende barato. James Bond ainda é, em larga medida, o mesmo cara que se apresentou, com um cigarro na boca, como Bond, James Bond, em 'O Satânico Dr. No' hà 50 anos. Elementos do filme- o smoking, o martini 'batido, não mexido', os carros, as infelizmente sempre descartáveis(e frequentemente descartadas) Bond Girls, as frases de efeito, as armas tecnológicas, as cenas de ação de introdução, seguidas por um videoclipe embalando os créditos iniciais... eu poderia passar o dia todo enumerando os elementos dos filmes de James Bond que já fazem parte das nossas vidas e do centro nervoso da cultura pop. Cada filme de James Bond, assim, já está praticamente feito antes que se começe a filmagem, e cada diretor tem que operar dentro de uma(bastante estreita) margem de manobra. Sempre que algum desses elementos é retirado ou meramente alterado, ocorre uma revolta popular.
Ditas essas palavras iniciais, eu quero chegar ao ponto principal do texto: os filmes são bons? A resposta: não sei, não vi todos- não tenho tempo de ver 23 filmes, tolinhos! A única base de comparação que tenho são as já mencionadas músicas que abrem os filmes. Dessas sim, já ouvi todas, em sessões compulsivas de busca pelo Youtube. E dou para vocês, meu julgamento sobre os últimos 50 anos de Bond, James Bond com base em suas músicas.

"Tema de Bond" de 007 Contra O Satânico Dr. No (1962)
John Barry Orchestra
O clássico, o inesquecível. Sim, é o tun-dun-dun-dun, dun-dun-dun-dun-dun-dun, dun-dun, TANÃM, TANANA! É difícil julgar uma música icônica como essa de forma neutra, mas fazendo o meu melhor, posso dizer que traduz tudo aquilo que James Bond representa- a finesse, o mistério, a sensação de uma ameaça secreta que pode atacar a qualquer momento(Sim, é a parte do TANÃM). Tem até um pouco de surf rock, algo pioneiro para um filme da época.
Nota Final: 10/10

"Tema de From Russia With Love" de Moscou Contra 007 (1963)
John Barry Orchestra
Mais uma música instrumental, não tão inspirada quanto sua antecessora, mas interessante mesmo assim, e, eu diria, injustamente esquecida pela história. Ainda assim, é muito parecida com sua antecessora para ser uma música realmente interessante- uma crítica também frequentemente apontada aos filmes de James Bond.
Nota Final: 7.5/10

"Goldfinger" de 007 Contra Goldfinger (1964)
Shirley Bassey
A música de James Bond que todas as músicas de James Bond querem ser. Esta pérola da grande Shirley Bassey entrou com justiça para a história, e o filme que a acompanha é também considerado o melhor de todos os filmes da série. A provocante combinação dos instrumentos de sopro com a voz sensual de Bassey produz uma música sexy, enigmática, que chega ao ápice nas notas finais ("He loves only GOOOOOOOLD"). O sinuoso e inventivo uso dos instrumentos de corda ajudam à tornar essa uma das músicas mais memoráveis dos filmes.
Nota Final: 10/10

"Thunderball" de 007 Contra a Chantagem Atômica (1965)
Tom Jones
Estou notando um padrão aqui. música boa, seguida de música menos boa, seguida de música boa. A composição no geral é pouco inspirada, e não há muito o que dizer. Tom Jones, aparentemente, desmaiou nas notas finais da gravação. O que eu posso dizer após ouvir o resultado final é: Não era para tanto, Tommy.
Nota Final: 7/10

"You Only Live Twice" de Com 007 Só Se Vive Duas Vezes (1967)
 Nancy Sinatra
A música mais anos-60 de James Bond é também uma das melhores. Nancy Sinatra mostra que sabe cantar sobre muito mais assuntos do que botas e empresta seus vocais felinos à essa sensacional balada, embalada por uma guitarra vagamente psicodélica, que empresta uma pegada oriental à música, o que é apropriado para o filme, que se passa no Japão. O crescendo no final sempre me dá calafrios quando eu a escuto.
Nota Final: 10/10

"Tema de On Your Majesty's Secret Service" de 007 A Serviço de Sua Majestade (1969)
John Barry Orchestra
Mais um tema instrumental, e um que parece mais que um bocado com a chamada da 'Voz do Brasil', um plágio que levou o filme à ser banido pelo regime militar. Tá, não, mas vai dizer que não é parecido. A música, em todo caso, mais uma vez traz mistério e uma certa seriedade e senso de iminência ao filme- talvez a iminência da demissaõ de George Lazenby, que, como James Bond, só fez esse filme.
Nota Final: 8/10

"Diamonds Are Forever" de 007- Os Diamantes são Eternos (1971) 
Shirley Bassey
Shirley Bassey retorna, com um número *bastante* menos inspirado que Goldfinger, com um ritmo mais lento e meloso. Enquanto que sua investida interior no mundo de James Bond contava com força e auto-afirmação, essa parece um tanto... gelatinosa. É também a primeira música a quebrar o padrão da 'música boa, música ruim', para o bem ou para o mal.
Nota Final: 7/10

"Live and Let Die" de Com 007 Viva e Deixe Morrer (1973)
Paul McCartney
A chegada de um novo ator, Roger Moore, à cadeira de Bond traz renovação à série, que andava cansada- e isso pede ninguém menos do que o ex-Beatle Paul McCartney, para remexer as coisas musicalmente falando. Ele consegue, com a emocionante "Live and Let Die", que começa parecendo algo lento e calmo como "Let it Be"(talvez uma brincadeira com o título?) mas, após alguns acordes poderosos, se torna a trilha sonora de uma perseguição de carros. E eu ainda achava que era do Guns 'N Roses.
Nota Final: 9.5/10

"The Man With The Golden Gun" de 007 Contra O Homem da Pistola de Ouro (1974)
Lulu
Puta Merda, eu odeio essa música. Quer dizer, ela começa promissora, com alguns instrumentos de corda, que, parece, vão tornar essa música melhor até do que a perseguição de carros de "Live and Let Die"- e daí a Lulu começa à cantar. Sua voz consegue ser esganiçada e anasalada ao mesmo tempo e lembra a do moleque do 'Atóron Perigón'. Os acordes agressivos salvam essa música de ser um fiasco amargo.
Nota Final: 6.5/10

"Nobody Does It Better" de 007- O Espião que Me Amava (1977)
Carly Simon
Eu não tinha ideia de que essa música era de um filme, quanto mais de James Bond. Carly Simon empresta sua voz á uma música que pode ser descrita simplesmente como apaixonante. Eu acho que não consigo descrever como essa música transmite bem o sentimento de estar apaixonado então vou deixá-los apenas com a foto de um porco.
 http://www.institutohypnos.org.br/wp-content/uploads/2009/04/porco.jpg
A bateria e a letra tinham tudo para tornar essa música cafona, mas por algum motivo além da minha compreensão, ela soa muito bem. Esse estilo de música foi copiado poucas vezes depois em outros filmes de 007, e com razão- quando se chega ao auge dessa forma, produzir qualquer outra coisa parecida sempre vai parecer um desapontamento. Carly Simon assim, mais uma vez, prova que "ninguém faz melhor" que ela, e nos entrega uma das melhores baladas dos anos 70.
Nota Final: 10/10 

"Moonraker" de 007 Contra O Foguete da Morte (1979)
Shirley Bassey
Porra Shirley, você de novo! ...Enfim, Shirley Bassey entrega outra música pouco inspirada, e extremamente cafona, até para o padrão dos anos 70. Esse, por coincidência, é também considerado o pior filme da série 007, e com basse nesses 3 minutos, posso entender porque.
Nota Final: 6/10

"For Your Eyes Only" de 007 Somente Para Os Seus Olhos (1981)
Sheena Easton
Ah tá, pera, essa música consegue ser mais cafona que Moonraker. Porra, beleza. Lembra quando eu disse que poucos tentaram copiar o estilo de balada de Carly Simon? Essa é uma dessas músicas que tenta, e fracassa terrivelmente. A cafonice é insuportável e a música consegue ser mais melada do que gel de cabelo(leia-se: muito) e não traz nenhuma da sensualidade ou paixão das músicas anteriores, parecendo mais alguma coisa que foi colada com cuspe, parte por parte, em um grande estúdio de uma gravadora gananciosa buscando um sucesso fácil para as rádios. Essa aqui não sobreviveu o teste do tempo, e com razão. Aliás, esqueça "Moonraker"- só com base nessa música eu diria que esse sim deve ser o pior filme de 007.
 Nota Final: 4/10

"All Time High" de 007 Contra Octopussy (1983)
Rita Coolidge
Não tenho ideia sobre o que esse filme fala, mas com base no título digo que deve ser um lixo. A música não consegue ser muito melhor- é bastante melosa, mas felizmente executada com mais competência e por uma cantora muitas vezes melhor. 
Notal Final: 5.5/10

"A View To a Kill" de 007 Na Mira dos Assassinos (1985)
Duran Duran
Essa época é considerada o período negro de 007, com o estúdio EON lançando filme ruim após filme péssimo, à cada dois anos, com um Roger Moore que já beirava os 60 anos. Os produtores bem que tentaram rejuvenescer a franquia chamando a então banda hype Duran Duran para fazer a música-tema do filme, com resultados... medianos. Bom, sem dúvida é melhor que os anteriores, mas não muito. Continua parecendo um pop industrializado e sem muita relação com a imagem de James Bond, e que consegue, de mabeira muito tosca, encaixar o título do filme no refrão, algo que TODAS as músicas tentavam fazer nessa época, com graus variados de sucesso.  É relativamente dançante, o que lhe garante uns pontos.
Nota Final: 6/10

"The Living Daylights" de 007 Marcado Para a Morte (1987)
A-Ha
Ah, os anos 80, época em que fazia sentido chamar o A-Ha pra fazer um filme de James Bond. Essa música também parece mais um single do A-Ha do que propriamente uma música de 007, mas isso é relativamente bom, porque uma música-do-A-Ha-sendo-uma-música-do-A-Ha é melhor do que uma música do A-Ha tentando ser uma música de James Bond, o que eu acho que não daria certo. Ela também é relativamente mais inspirada que a anterior, mas de novo, não muito.
Nota Final: 6.5/10

"Licence To Kill" de 007- Permissão para Matar (1989)
Gladys Knight
Cacete. Agora, isso sim é uma música que só pode ser cantada por uma negona. Enfim, por onde começar? A voz poderosa de Knight dá um caráter inconfundível à essa música, assim como o início orquestral(que, devo adicionar, também sempre me dá calafrios). A música é cafona, mas isso é perdoável pela forma criativa como Knight dialoga com a orquestra, deixando ela intervir em momentos chave(como no pan-panpan-pan-pan-pan! Tá, eu não sei descrever músicas), e também é perdoável porque são os anos 80, e tudo acaba sendo cafona de uma forma ou outra. Essa é uma das poucas músicas feitas após os anos 60 que consegue realmente capturar o espírito de James Bond- o amante incorrigível, o gentleman fino, mas também o assassino implacável.
Nota Final: 10/10

"Goldeneye" de 007 Contra GoldenEye (1995)
Tina Turner
Meh. Nunca sei muito o que dizer dessa música.  Depois de "Licence To Kill" acho que tudo ia parecer meio fraco, mas até a suposta sensualidade dessa música me deixa me sentindo meio distante. A introdução animada, com suas estátuas soviéticas em ruínas, é quem realmente leva o prêmio, por mostrar que o velho mundo havia acabado e deixar claro que James Bond agora estava em território não-explorado: o mundo do pós-Guerra Fria.
Nota Final: 7/10

"Tomorrow Never Dies" de 007- O Amanhã Nunca Morre (1997)
Sheryl Crow
Sempre tive um fraco pela Era Pierce Brosnan, parcialmente porque cresci com ela, mas também porque os nomes dos filmes eram muito legais. Esse, provavelmente, tem o nome mais legal de todos, embora não signifique muita coisa. A música lembra uma versaõ menos afetada de "For Your Eyes Only": a cantora tem uma voz estridente e forçada, mas por algum motivo, eu não odeio essa música. Talvez o uso agressivo das cordas na introdução seja sua salvação, ou o fato da letra ser também muito interessante, de novo, talvez a melhor de todas. Uma música irregular, com altos e baixos, mas que tem uma atmosfera pesada de "diva" que a favorece. 
Nota Final: 7.5/10

"The World is Not Enough" de 007- O Mundo Não É O Bastante (1999)
 Garbage
O filme em si é bem medíocre,  mas a música... A banda Garbage, uma de minhas favoritas, mais uma vez prova que não merece esse nome e entrega talvez a música com a cara mais clássica de todos os Bonds, que parece ter saído fresquinha de um cabaré dos anos 50. Shirley Manson arrasa nos vocais em um momento de diva, e, apesar da letra ser repetitiva, consegue eriçar os pelos do meu pescoço quando canta as estridentes notas finais da música. As cordas- sempre elas- mais uma vez elevam a música à um outro patamar.
Nota Final: 10/10

"Die Another Day" de 007- Um Novo Dia Para Morrer (2002)
Madonna
Aí não é justo. Todo mundo já zoou tanto essa música que eu não tenho nada que eu possa dizer sem soar repetitivo. Enfim, vou tentar resumir: em uma patética tentativa de reinvenção, chamam Madonna para fazer uma música tão futurista que acho que só vai ser apreciada puramente daqui á 20 anos. Talvez seja legal como experimento, mas no filme, ficou bizarro- a música não tem nada à ver com James Bond, e em alguns momentos soa discordante, irritante e pretensiosa. Techno demais pro meu gosto. O filme também tentou se reinventar, trazendo um satélite com um laser que destruía tudo, um Aston Martin invisível, um palácio de gelo e um vilão norte-coreano que faz uma cirurgia pra virar branco. Eu queria muito estar inventando isso, mas não estou. Essas invencionices não foram bem-recebidas por ninguém, dando um fim inglório à Era Brosnan e levando á uma nova reinvenção...
Nota Final: 6/10

"You Know My Name" de 007- Casino Royale (2006)
Chris Cornell
Hoje é dia de rock, bebê! Chris Cornell, do Soundgarden, entrega a música de abertura mais rock 'n roll de todas, com os instrumentos de corda fazendo as vezes de uma guitarra agressiva que conquistou meu coração nas primeiras notas. Não há muito à dizer, além de que se trata de um clássico instantâneo. Em uma nova era de realismo, Bond se desfaz das canetas explosivas e abraça uma nova identidade. Ele não diz mais "Bond, James Bond", pois nós "já sabemos o seu nome."
Nota Final: 10/10

"Another Way To Die" de 007- Quantum of Solace (2008)
Jack White e Alicia Keys
Essa costumava ser a minha música de abertura favorita, e ainda considero uma das melhores. Ela recria a vibe clássica de músicas como "TWINE"  e a alia à agressividade do rock de "You Know My Name", com Alicia Keys auxiliando com seu poder vocal nas notas que White não alcança. Um luxo, assim como o filme, que, infelizmente, não é tão querido pela maioria.
Nota Final: 9.5/10

e, finalmente...
"Skyfall" de 007- Operação Skyfall (2012)
Adele
Talvez o filme de James Bond com o nome mais legal desde a Era Brosnan, Skyfall traz mais um tema de inspiração clássica, muito apropriado para uma série que sopra 50 velinhas esse ano. A poderosa voz de Adele faz essa música, com cara de hino funerário, alcançar outro nível. Apesar de seu caráter funesto, Skyfall prova que James Bond está mais renovado que nunca, e vai continuar entretendo gerações.
Nota Final: 9/10

E é isso. Nossa, isso foi bem mais longo e trabalhoso do que eu imaginei que seria.
PS: Para quem quer escutar todas as músicas, mas está com preguiça de procurar, esse vídeo já dá uma ideia boa de como elas são, assim, se vocês lerem bem rápido o que eu escrevi, podem até ler sobre a música enquanto ela toca! Porque não?

Franco Alencastro acha que o "Bonde do Tigrão" deveria ser usado como a próxima música de abertura de James Bonde, digo, Bond.



 


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