terça-feira, 30 de outubro de 2012

Uma sugestão simples pra resolver a crise da dívida(sem irritar os tais criadores de riqueza)

É fato que estamos vivendo em uma época complicada. E não, isso não é um pastiche do meu último artigo. Evidentemente, isso vai levar ao corolário da Lei de Poe, que é:
Quando alguém defender a própria opinião depois de fazer uma paródia da opinião do adversário, sempre surgirá um espírito de porco para apontar que a paródia era menos caricata que a opinião real.
Se bem que, pensando bem, talvez isso seja muito específico para ser usado. Droga, nunca vou ganhar nenhum dinheiro com Copyright desse jeito.
 
Enfim, após essa introdução inútil, começemos sem mais delongas o post.

Afinal de contas, qual é a raíz da crise econômica que a Europa atravessa? Essa é uma pergunta importante, já que a solução, acredita-se, passa pela raíz. 
Quem está à esquerda defende que os bancos e suas operações financeiras arriscadas puseram muito dinheiro em jogo e assim levaram à crise, e que portanto só mais regulamentações nas finanças impedirão uma nova crise. À curto prazo, propoem um aumento de impostos para os mais ricos, que, dizem eles, podem pagar pelos próprios estragos.
Quem está à direita defende que, causadores da crise ou não, os bancos não devem ser responsabilizados pela atual crise da dívida- para pagar a tal, seria necessário arrocho salarial e impostos mais altos, recaindo especialmente sobre os menos afortunados.
Eu poderia apontar mil inconsistências na lógica da direita, mas deixarei isso para outro post. O fato é: Brigar não nos levará à lugar nenhum. A solução, aqui especialmente, é a conciliação.
E como isso se traduz em termos práticos? O jeito mais fácil é criando uma solução que agrade à todo mundo. Ora, Franco, não é isso o que os governantes tentam fazer nos últimos três anos? Ora, é claro que não, leitor inexistente. As soluções defendidas até agora foram quase que inteiramente para estimular a oferta, de diversas maneiras. De novo, a falsa equivalência se faz sentir no debate. O mito de que teria havido um estímulo à economia pago pelo Estado em 2009-2010 é apenas isso, um mito. O que houve foi uma pilhagem de patrimônio público sem precedentes na história humana, exceto talvez nas infames enclosures. O risco foi socializado, e o povo pagou a conta. Em um verdadeiro estímulo Keynesiano, os Estados não teriam resgatado bancos enormes que, no fim, não produzem nada, e sim investido em obras públicas para criar empregos e estimular o consumo pelos próprios cidadãos. Ao invés disso, resgataram-se os verdadeiros causadores da crise.
Mas não estamos aqui para falar do que poderia ter sido feito então, e sim do que pode ser feito agora. Os mundos de 2009 e 2012 podem até não parecer, mas são bem diferentes. Em 2009 tínhamos um mercado financeiro em queda livre; agora, os mercados financeiros estão aí, urrando pelo pagamento das dívidas gigantescas que os resgataram.
Assim, a solução para a crise deve ser feita pensando no futuro, e não no passado. E o que tem de mais vanguardista do que pensar com 30 anos de antecedência?
Pois o mundo desenvolvido está ficando velho, minha gente. E com mais velhos, a conta da aposentadoria aumenta, pois ainda por cima, em uma sociedade com a taxa de fertilidade em queda, hà poucos jovens para pagar a conta. E a conta não fecha. Esse é um dos principais argumentos daqueles que defendem a austeridade fiscal e, honestamente, é também o melhor.
É nessas horas que você pensa: Mas e todas aquelas matérias sobre os tais velhinhos que vivem melhor, fazem esporte, levam vidas saudáveis aos 60, 70 anos? Pois é, leitor, eu também, e isso me faz pensar no que pode ser feito. Afinal, se um velhinho pode fazer windsurf aos 75 anos, também pode trabalhar. É duro, mas é verdade. 
Assim, eu proponho aumentar a idade mínima de aposentadoria para 80 anos.
PORRA, Franco! Oitenta anos? Acha que é o que, o Presidente do FMI? Um neoliberal? Um NAZISTA?
Calma lá, nerd tetudo, deixa eu terminar meu raciocínio. É fato que botar a aposentadoria em 80 anos praticamente vai acabar com ela, excetuando-se os seletos velhinhos que vivem muito além disso. Mas a questão é: Você não fica entediado depois de três meses de férias? Agora imagine o tédio desses três meses, estendidos por anos, possivelmente décadas. Pessoalmente, é uma tortura que eu não desejo pra ninguém. 
Eu não sei quanto à você, e posso até estar falando besteira, mas as pessoas que conheço parecem se divertir muito mais em pequenos intervalos de ócio. Afinal, o ócio só é divertido porque é a exceção. Se se torna a norma, vira uma tortura, tão ruim quanto o trabalho.
Então, frente à essa sociedade imaginária em que as pessoas essencialmente trabalham até morrer, qual é minha segunda proposta, agora que os pagamentos de aposentadorias estão neutralizados?
Simples. Diminuir as horas de trabalho. 
A lógica é bem simples. Ao longo de uma vida, trabalhamos X horas. Se estendermos a duração da "vida útil", trabalharemos X+Y horas, mas, se reduzirmos a carga horária de trabalho, de 44 horas semanais(pegando a norma brasileira que, bem ou mal será afetado por isso num futuro não muito distante) para, quem sabe, 34, teremos a mesma produtividade de antes, com pagamentos de segurança social muito menores e uma geração de bem-estar, acredito, bem maior. 
Com essa solução, as pessoas deixarão de passar tanto tempo em cadeiras de balanço pensando em amigos que já morreram e passarão mais tempo com a família enquanto ela ainda é jovem, tirar férias mais longas, conhecer o mundo enquanto ainda tem energia para isso. Inclusive, com a redução de impostos possibilitada pela queda do pagamento de aposentadorias, terão mais dinheiro do que antes, precisando trabalhar menos. 
Uma experiência semelhante foi tentada na França, em 1998. O projeto, cria do premiê socialista Lionel Jospin, reduziu a carga de trabalho semanal de 39 para 35 horas. Nos três anos seguintes(dois, segundo algumas fontes), o impacto estimado pela nova lei foi de criação de 350 mil empregos, o melhor resultado da década de 90 na França, ajudado em parte, é verdade, pela flexibilização das leis salariais, que facilitaram a contratação de pessoas à meio-período para compensar a perda de produtividade à curto prazo.
É mais do que um projeto de justiça social, ou de simples pagamento da dívida. É uma nova forma de organizar a sociedade.
Então, o que estão esperando, burocratas de Bruxelas? Esse projeto está prontinho pra vocês. E eu nem vou cobrar Direitos Autorais.

Franco Alencastro fica um pouco cheio de si, às vezes.

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