segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

120 Horas em Lhassa - Parte IV

0 horas, 36 minutos

-Gyatso!- berrou o Dalai Lama.
A vida de Zheng Gyatso desde que chegara ao topo tinha sido curiosa. Talvez por ter o mesmo nome que ele, ele era o Ministro de quem o Dalai Lama mais cobrava esforços e aquele com o qual ele se decepcionava com mais frequência. 
-Sim!
-Chame as tropas. Disperse esses tolos manifestantes. Use artilharia, se for preciso, mas finalize isso antes do sol se pôr.
Gyatso mordeu o lábio inferior.
-Senhor, acho melhor não... Nossa imagem lá fora está muito combalida. Não precisamos de mais um massacre para piorar as coisas.
Gyatso mordeu o lábio com mais força quando viu que a testa do Dalai Lama passara de rosada á vermelha.
-É Vossa Santidade, Vadia! Quem disse que eu me importo com a opinião que outros países têm de nós?!?! Bukkara tem funcionado muito bem nos últimos 70 anos, e eu quero que continue assim!! Deixe que os ocidentais fiquem com suas taxas de aprovação. Estamos em Bukkara, e o seu dever, General, é SERVIR BUKKARA!
Todos se calaram e observaram a raivosa figura do Dalai Lama. Apenas Luvsanshara continuava tomando seu chá. 
-Vossa Santidade, perdoe-me a intromissão, mas não precisamos mandar tropas- disse aquele que tomava o chá.
O Dalai Lama se virou, bastante surpreso.
-Pois não?
-Não precisamos mandar o Exército. Meus homens podem cuidar disso.
-Seus homens... Coronel, sem querer rebaixá-lo ao mesmo nível desse imbecil- disse, apontando Zheng com o queixo- mas COMO mandar o Ulukorbak seria melhor que mandar o Exército?
-Simples. Não será o Ulukorbak. Assim como existem grupos de extremistas que odeiam Vossa Santidade, existem grupos de... cidadãos bem-intencionados que dariam suas vidas para defendê-lo. Meus agentes só precisam fingir que são essa milícia, e a supressão da revolta terá legitimidade.
O Dalai Lama refletiu por alguns segundos, respondendo finalmente com um sorriso.
-Luvsanshara... você é um gênio!
-Ora, Vossa Santidade, você teria tido essa ideia umas hora ou outra.
-É verdade. 
-Bom, Coronel Luvsanshara, deixarei que faça sua mágica. O resto de vocês está dispensado.
Os ministros, espantados pela brevidade do diálogo, se retiraram da sala.

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