CENA 6/ INT. DIA, SALA DE AULA
(os alunos um à um guardam seus biscoitos enquanto se entregam à atividades de utilidade duvidosa. ANNA guarda seus biscoitos em uma lancheira e começa à mandar SMS. CAIO morde a ponta da caneta, BOLA faz um círculo grande de tinta com sua caneta. Os outros não importam tanto. Os dois últimos à serem mostrados são o SUPERVISOR, que come casualmente seu biscoito enquanto lê o jornal Lance Livre ou algo semelhante, e FELIPE, que pega 3 biscoitos e os devora todos juntos enquanto ri)
(O foco então se alterna entre o relógio e ARMANDO, que o olha tensamente. Um close é feito no relógio entre os cortes, da mesma maneira que um é feito sobre o rosto de ARMANDO. O close do relógio é no número 12, com o ponteiro se aproximando deste. Quando o ponteiro finalmente alcança o 12, o close é nos olhos de ARMANDO, fechados. Ele pega a mochila e se prepara para sair da sala)
SUPERVISOR
(interpelando ARMANDO)
E você, pra onde acha que vai?
ARMANDO
(se virando de frente para a porta, visivelmente tenso)
Eu? Eu, hum, vou ao banheiro.
SUPERVISOR
Banheiro? À essa hora? Ô Armando, eu não sei se você percebe, mas a sua punição acabou de começar. Volta pra sua cadeira, você vai ter muito tempo pra ir ao banheiro na pausa.
ARMANDO
Mas eu preciso ir!
SUPERVISOR
Ir para o banheiro? De mochila?
(corta para a mochila de ARMANDO)
ARMANDO
(dando de ombros)
Hããã...
SUPERVISOR
Vamos, senta. (tosse) Vai te fazer bem.(a tosse aumenta)
(todos começam à olhar)
SUPERVISOR
(tossindo)
Gente, gente, não é nada.(tosse em um lenço que ele tira do bolso da camisa; foco no lenço: está cheio de uma substância escura e espessa)
SUPERVISOR
Ai, bosta.(cai no chão)
(ARMANDO corre para ajudá-lo; segura-o nos braços como uma Pietá. Enquanto isso, a boca do SUPERVISOR solta mais do líquido preto)
ARMANDO
(berrando)
O que estão esperando? Liguem para alguém, já!
ANNA
(virada e digitando no celular, chorosa)
Ai, meu Deus, que coisa horrível!
(CAIO retira o celular da mochila; digita, mas não dá em nada)
CAIO
Alô? Alô? Emergência? (gritando com o cel.) Caralho! Merda, merda, merda!
(ARMANDO se levanta, deixando SUPERVISOR cair no chão com um barulho forte; ele tem um freak-out básico e gesticula rápido com as mãos como se fosse o Woody Allen)
ARMANDO
Tá bom, pessoal, ta bom, estamos sem sinal, olha, olha, eu vou fazer o seguinte, eu vou lá fora, ligar para a emergência!
BOLA
O orelhão!
CAIO
Bom, o que você ta esperando?
(ARMANDO sai correndo da sala)
VÍTOR
Nossa, isso ta horrível!
(foco no rosto do SUPERVISOR, que solta litros do líquido preto. De fato, é horrível. VÍTOR o limpa, sem surtir muito efeito)
(de repente, ouve-se o barulho de alguém sequelando. VÍTOR é o primeiro à se virar, e logo todos se viram. A câmera, que filmara a limpeza do nariz do SUPERVISOR em apenas um quadro se vira para o FELIPE, no canto da sala, que está chacoalhando e soltando o líquido preto pelo nariz)
(Felipe é filmado de costas. Ele cai, revelando ANNA que o estava encarando de frente com um olhar de choque. Ela balbucia, e então solta um grito histérico para a câmera).
CAIO
(interrompendo ANNA)
Se... Se acalma, mulher!
BOLA
Pessoal, eu não sei que merda, é essa, se é uma epidemia, uma virose, mas não é bonito!
VÍTOR
À essa altura virou uma epidemia sim! Eu não sei, mas... Pera, tem um jeito fácil de resolver isso. O que eles dois tinham em comum?
(BOLA e CAIO olham um para o outro; VÍTOR, com uma expressão vazia, olha para ANNA)
ANNA
Olha, os dois estavam comendo biscoitos. O Felipe pegou uns dez.
VÍTOR
Peraí, mas isso não é possível. Todo mundo comeu os biscoitos.
(ANNA levanta a mão, mostrando o biscoito que não comeu. CAIO e BOLA também mostram seus biscoitos)
VÍTOR
(olhando para baixo)
Tá, ta certo então. (levanta o rosto, incrédulo)Mas pera, pessoal, isso porque o Armando teria nos dado esses biscoitos? (pausa) Onde ele ta agora?
Nenhum comentário:
Postar um comentário