CENA 7/ INT. DIA, CORREDOR
(Todos estão olhando para um ponto do corredor. Um zoom-out revela que eles estão olhando para o orelhão vazio, com o cabo do telefone caído e balançando)
CAIO
(chutando a porta)
Merda!
ANNA
Então... Ele...
VÍTOR
Envenenou os biscoitos, pra matar todos nós. A questão é, nós não mordemos a isca. Ou seja, ele não está fugindo. Está apenas se preparando para terminar o serviço.
BOLA
Cara, isso não...
(barulho de porta se abrindo. Corte para a porta em si, a do banheiro feminino. PATRÍCIA, a DARK GIRL, sai, botando os dedos no canto da porta.)
BOLA
(sussurrando)
É... Quem é ela?
ANNA
(idem)
Não é óbvio? É a Patrícia.
BOLA
(idem)
Nunca ouvi falar.
ANNA
(idem)
Cara, você estuda com ela à tipo uns 6 anos.
BOLA
(idem)
Bobagem, eu sempre lembro de todo mundo, e não lembro de... (em voz alta, para Patrícia, que já está perto) Ah oi, Patrícia!
(CAIO bate em BOLA)
BOLA
(faz cara de “ei!”)
Ei!
CAIO
Não tenta diminuir a gravidade da situação. (Tenta se lembrar do nome de Patrícia) É, Mortícia... Acabou de, hum, rolar umas merdas aí.
BOLA
(sussurrando)
Parabéns, mestre do tato.
PATRÍCIA
É, deixa o meu nome pra lá, vocês nunca lembram mesmo.
(todos olham surpresos para ela)
BOLA p/ CAIO
(sussurrando)
Uau, ela fala.
VÍTOR
(dando um passo à frente)
Olha, Vandinha, temos umas notícias terríveis à dar pra você. A gente, é, nós, acreditamos que o Felipe e o Maicon acabaram de ser assassinados.
(silêncio desconfortável)
ANNA p/ VÍTOR
(sussurrando)
Cara, ela claramente não sabe de quem se trata.
PATRÍCIA
Sei sim. (começa à contar nos dedos da mão) Assis, Jorge, Arthures, Lílian, Belmonte, Caio(aponta para Caio), do Carmo, Beatriz, do Carmo, Anna, Fagundes, Vítor, em suma, eu conheço todo mundo.
(Todos olham, meio surpresos)
PATRÍCIA
Agora, se não me engano, o Felipe de Castaneda sentava sempre na última fila, à duas cadeiras da minha, e costumava matar as duas últimas aulas da manhã pra (faz um sinal de fumar com os dedos) tomar um trago. Tirava umas notas ruins especialmente em matemática, e, até onde eu sei, nenhum de vocês falava muito com ele.
(todos olham uns para os outros e assentam com a cabeça)
PATRÍCIA
Agora, voltando um pouco ao que vocês tinham dito. Ele realmente morreu? De verdade? Cadáver, e tudo?
(idem)
PATRÍCIA
Bom, isso é preocupante. (faz cara de interessada) Como foi?
VÍTOR
(sério)
Vomitando. Vomitando jatos de uma substância preta.
PATRÍCIA
Preta, né?(coça o queixo) É, essa eu não conheço.
ANNA
(perdendo a paciência)
Tá, pessoal, a gente ta perdendo tempo!(p/ CAIO, sussurrando) Tá vendo, é por isso que eu não falo com ela, essa garota é maluca.
(Patrícia revira os olhos, complacente)
ANNA
Ah, o que foi, Mortícia? Tá irritada? Acha que é a única com problemas? Quer dizer, tem gente morrendo nessa escola, a gente tem que se unir, não ficar brigando!
(PATRÍCIA se vira e vai andando)
ANNA
E aonde você pensa que vai?
PATRÍCIA
(se virando)
Não vou pra lugar nenhum. Vou sair dessa escola.
ANNA
Sair? Você vai nos... Abandonar aqui?
PATRÍCIA
Sim. Aparentemente, temos um assassino aqui. Eu pretendia acordar cedo, ir pra escola, fazer alguma redação maluca de mil palavras sobre quem eu sou, e voltar. E não, lidar com um serial killer não estava incluído nesses planos. Além do mais, se ele está à solta na escola, porque vocês não, sei lá, saem pela porta da frente?
ANNA
(sarcástica)
Hah, olha só, que idéia boa, galera, vamos todos sair em fila pela porta da frente! Pela estrada afora, eu vou bem- Ô SUA MULA! É óbvio que não dá pra sair! A escola toda está trancada e o Carlos é que tinha as chaves!(ela aponta o dedo para o SUPERVISOR, e é feito um corte rápido na direção dele, coberto de baba preta. Corte de volta para ANNA.) Você é retardada ou o que?
VÍTOR
Meninas, não briguem! Não briguem, porra!
BOLA
(para CAIO)
Ui, briga de meninas.
VÍTOR
Temos que permanecer unidos nessa porra. Agora guardem esses egos em algum lugar onde eles não façam barulho.
ANNA
(Mordendo o lábio)
Tá.
VÍTOR
Além disso, estamos perdendo o que importa de vista. Se o Armando matou mesmo o Felipe e o Carlos, qual seria o motivo para ele fazer isso?
(Todos olham uns para os outros.)
PATRÍCIA
Eu sei.
VÍTOR
(estranhando)
Você... Sabe?
BOLA
Ela sabe?
PATRÍCIA
Bom, eu não sei. É uma teoria.
ANNA
(Põe a mão no queixo e na boca em uma posição pensativa)
Mas... Eu ainda não entendo. Quer dizer, ele era um cara tão legal. Gente fina.
CAIO
Desculpa intervir, mas ele não era não.
PATRÍCIA
(mexendo os olhos rápido)
Ele está certo.
ANNA
(se virando e tirando a mão do queixo, fazendo cara de “bitch please“)
Pera, como é que é?
CAIO
Ele não chegava à ser uma pessoa boa. Na verdade, estava bem longe disso.
PATRÍCIA
É, eu tenho memórias vívidas disso. Não sei se vocês lembram da irmã dele.
ANNA
(confusa)
Ele... Tinha uma irmã?
VÍTOR
Tinha. Tem.
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