quinta-feira, 27 de junho de 2013

Fascistas! 3 meses depois

Uma das coisas que critico com frequência nesse blog (na verdade não, eu critico mais na vida real mesmo) é a nossa irremediável obsessão com o passado recente, que vai desde turnês especiais de bandas que acabaram hà mais de dez anos, até a transformação em 'História', com h maiúsculo, de acontecimentos que ainda não acabaram, evidenciado pela vontade geral de proclamar todo evento recente como o maior acontecimento desde que o homem pisou na lua. 
Mas notem que eu usei "nossa" em "nossa irremediável obsessão", não "a sua". Se eu falei isso é porque sim,  eu faço parte dessa obsessão. Eu sofro dela. E hoje, eu vou me entregar à ela, analisando o passado recente  dessa que foi minha maior realização do ano passado: Esse blog! (Sim, foi um ano particularmente desprovido de realizações) Agora que ele está prestes à completar um ano(bom, está um pouco longe ainda, mas vamos fingir isso por um momento) eu vou voltar atrás e trazer de volta algum de meus antigos textos que seja relevante para o momento atual. E, olhando para trás, eu acho que nenhum texto meu é tão relevante quanto 'Fascistas!', uma prova viva de como minha escrita é atual e visionária, pois foi escrito hà longínquos três meses.
O texto sobreviveu à passagem do tempo? Eu diria que sim, e surpreendentemente bem. Mas talvez não pelos motivos que você acha.
Hà 3 meses, eu condenava aqueles que acusavam o Governador Sérgio Cabral de 'fascista', comentando o quão ridículo era usar esse epíteto já que a Alerj não havia sido fechada, não tínhamos uma 'juventude cabralista', nem prisioneiros políticos. Hoje, eu me encontro com outros na rua que gritam 'Cabral fascista!' sem pensar duas vezes.
Vale aqui uma explicação. A violência policial que os manifestantes precisaram enfrentar desde que o Brasil explodiu em revolta, por volta de um mês atrás, abriu meus olhos para o imenso problema da violência em nosso país. Eu e outros, confortáveis em nossa vida de classe média, mantidos afastados dos violentos confrontos nas favelas, não tínhamos ideia da extensão das atrocidades praticadas pela polícia. 
'Mas eu achava que a polícia só matava bandido'
Esse é exatamente o problema. Polícia que mata bandido é polícia que reprime manifestação. O pacote é o mesmo, você compra tudo junto. A Tropa de Choque é apenas outra faceta do 'Bandido bom é bandido morto'. 
E o que isso tem à ver com o fascismo? Pouca coisa, na verdade, mas aqui vai uma ideia: Eu reclamei hà 3 meses atrás sobre como as pessoas banalizavam a palavra fascismo, transformando-a em um insulto descaracterizado e descontextualizado, e como isso era perigoso, pois quando um grupo começava à fazê-lo, todos fariam, inclusive a extrema-direita; e isso cegaria as pessoas para a emergência do verdadeiro fascismo. Mas quando a polícia começa à vasculhar as casas ao redor do Maracanã para procurar supostos 'vândalos', como aparentemente ocorreu, estamos vivendo realmente em uma democracia? Ainda é uma banalização usar 'Gestapo' como um adjetivo?
Dito isso, algumas partes do texto se mantém verdadeiras, curiosamente. Como vimos, nas últimas semanas, o movimento ganhou um caráter fortemente apartidário, se isolando inclusive dos grupos de esquerda que tradicionalmente comandam protestos como esse(e que, de fato, deram o pontapé inicial nessa mesma onda de protestos). Desde então, tenho visto a internet se encher de acusações de que o movimento teria ido 'muito à direita'; que inclusive, a direita estaria 'sequestrando o movimento' para seus próprios interesses, e que isso estaria sendo 'tramado pela Globo'. Essas risíveis acusações chegaram à um clímax quando a vontade expressa por muitos de que os partidos se limitassem à levar bandeiras do Brasil, e não tentassem fazer propaganda trazendo suas próprias bandeiras, foi tratada com um conhecido adjetivo- Sim, compararam a vontade de organizar um protesto sem a presença de partidos de 'fascismo', essa palavra feia, esse insulto. Chegaram à ponto de equacionar automaticamente todo tipo de nacionalismo com fascismo. Existem críticas inteligentes ao nacionalismo, mas soltar o adjetivo 'fascismo' e esperar pra ver se cola não é uma delas.
E com isso, deixo vocês até meu próximo texto- ando demorando, é verdade, mas- com o perdão da contradição com o que eu disse logo no início- a história está sendo feita nas ruas.

Franco Alencastro  é blogueiro, estudante, desocupado e Feliciano não o representa

Música da semana: Sonic Youth - Sunday

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