sábado, 11 de janeiro de 2014

Eu Matei Caetano Veloso - Parte 27

Capítulo 20


Salvador é mais bonita que eu esperava. Hoje, tive a oportunidade de passar pelo Pelourinho. Tudo aqui me anima de uma maneira ou outra; o riso das pessoas, o andar peculiar de seu sotaque, as cores e cheiros da comida. É em um lugar como esses- uma cidade que parece ter saído de uma caixa de lápis de cor de uma criança- que me dou conta do quão tediosa e cinzenta era minha vida na fria Detroit.
Estou aproveitando que no momento estou de dispensa para andar pela cidade. Fui posto em uma fila de espera pelo nosso QG para dizer o que sei sobre a ofensiva. Amanhã mesmo devo me apresentar ao General.
Mas hoje, posso me dedicar à aproveitar a cidade. As ruas de paralelepípedos e as casas coloniais dão o ar de cidade pequena á essa metrópole. Se pudesse, passaria a vida aqui.
Uma coisa curiosa. Quando estava caçando pelas ruas uma daquelas mulatas de charme dúbio, vi uma van perto da qual estavam dois jovens. Ambos pareciam ter por volta de 20 anos. Parecia praticamente impossível distinguir se eram um homem e uma mulher, uma mulher e um homem, dois homens ou duas mulheres. Pelas roupas, coloridas, desbotadas e com um ou outro motivo indiano que eu tinha quase certeza que não significava nada, eu deduzi que eram hippies. O cabelo também dificultava saber qual era o sexo deles, e os traços ambíguos de ambos não ajudavam.
O estranho é que eu tinha quase certeza que já tinha encontrado esses hippies antes em Fortaleza.
Mais ao longe, encontrei um cavalheiro negro esbravejando contra um carro no qual, eu imagino, ele não conseguia dar a partida. Talvez as pessoas aqui não sejam tão calmas e alegres quanto eu imaginei. Ainda assim, estar em um local em que eu posso conversar com mais pessoas que não os arbustos e lagartos do deserto é um alívio. Pela primeira vez que cheguei no Brasil, sinto que estou em paz.


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