domingo, 6 de julho de 2014

120 horas em Lhassa - Parte VIII

10 horas, 25 minutos

Após ler e reler as fichas que recebera durante o dia, Zheng Gyatso fora da sua caminhada diária na grande varanda que dava a volta ao Palácio Potala. Aproveitou também para ver como estava evoluindo a situação lá embaixo: de algumas dezenas, o protesto agora abarcava alguns milhares de pessoas. Porém, além disso outra coisa chamou a sua atenção. Inclinou-se para ver se estava vendo certo. Tirou um binóculo do bolso e olhou através dele. Chamou um serviçal que por lá passava.
-Ei, serviçal. Olhe por esse binóculo, e diga-me se não estou cego.
-Certo.
O serviçal olhou pelo binóculo, porém, corado, rapidamente tirou os olhos dele.
-Senhor... Coisa feia.
-É, é o que eu vi também, imbecil.
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-Li... Tem certeza que é uma boa idéia?
-Claro que é, Tyu! Acabamos de detonar a última barreira que ficava entre o homem e sua liberdade total. Somos um manifesto vivo, Tyu! Sinta o vento da liberdade, como ele sopra mais forte à cada segundo!
-É, o ruim é que no momento o vento está soprando um pouco forte demais, e bem aqui embaixo...
-Ora Tyu, ninguém disse que o caminho para a liberdade seria fácil. Teremos que sacrificar algumas partes de nós pelo caminho.
-É, tipo a nossa dignidade. Li, acho que ficar pelado no meio da Praça não está adiantando.
-Senhola, você é uma velgonha! Bote uma loupa, está desviltuando o nosso movimento!

-Senhor monge, eu sei que vocês estão liderando essa revolução e tem alguns hábitos bem tradicionais, mas no momento, tente expressar sua cultura em outro lugar. E por favor, olhe para o meu rosto quando fala comigo. Eu estou aqui em cima.

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