domingo, 6 de julho de 2014

120 horas em Lhassa - Parte XII

16 horas, 50 minutos

-Esse lugar me dá calafrios.
-Cale a boca, Hefei.
Haviam dirigido durante uma hora por uma estrada oculta que saía do Palácio Potala e levava às montanhas. O carro havia parado numa estrada de terra cercada por todos os lados de pedregulhos. A estrada levava até o alto de uma montanha onde um prédio austero de concreto dominava a paisagem. Um raio bateu ao lado da estrada, lançando uma luz azulada sobre o rosto de Hefei.
-Vamos- disse Rinpoche com uma voz tonitruante.

Eles entraram no prédio, e Hefei não sabia direito o que fazer. Tinha apenas a memória das descrições dadas por Tugh Ook, o ministro anterior, morto havia quase duas décadas. Tentou associar o que via com a descrição, mas não deu certo. Aquele era terreno de Rinpoche.
-Sabe que eu tirei esse lugar da jurisdição do Ulukorbak em 2003? Eles diziam que exercia controle sobre a mídia, logo eles deveriam ter a chave desse complexo. Mas, eu consegui convencer o júri de que ele caía melhor na função do Ministério de Energia e Infraestrutura.
-Nunca ouvi falar desse julgamento.
-É porque foi secreto.
Hefei olhou espantado para o ministro, que explicou.
-O que, acha que Bukkara ia sair revelando suas armas secretas por causa de um mero litígio judiciário? Não, não. Ah... chegamos.
De fato, haviam chegado ao centro da estrutura; um chão de metal gradeado rodeava um pequeno aparelho circular que parecia ser feito de alumínio, iluminado por uma luz fria que vinha do teto.
-Essa... é a Tomada Universal?
-Isso mesmo. O local que retransmite todas as ondas de satélite enviadas pelo Ulukorbak... e o único que pode interrompê-las, via um pequeno emissor de pulso eletromagnético. É tão genial, e tão simples ao mesmo tempo. Fico com orgulho de ter feito parte da equipe que o desenvolveu.
-Isso é sério?
-Sim, sim. Bom, o que está esperando? ligue-o.
-Eu? porque eu? Você o desenvolveu.
-Está negando uma ordem de seu ministro?
Hefei engoliu em seco. Rinpoche podia ainda estar bêbado mas não estava mais indefeso. Decidiu prosseguir. Com a mão tremendo, aproximou-se do aparelho.
-Agora veja. Aperte o botão azul, depois o amarelo, depois puxe a alavanca.
Hefei, temeroso, apertou logo o botão azul, e o som de um poderoso ventilador industrial se fez ouvir. Estava com medo.
-Amarelo! Amarelo!- urrava Rinpoche.
Apertou o amarelo, e o barulho se intensificou. Uma clarabóia se abriu no teto e a luz azul cresceu, quase cegando Hefei.
Determinado à continuar enquanto um vento sobrenatural sobrava ao redor de si, puxou a alavanca.
Tudo parou. A luz diminuiu e o barulho bíblico que vinha das paredes diminuiu até parar, e a máquina agora parecia ronronar. Um contador anunciava: 1%... 1%... 1%...
-É isso?
-É claro que não. Vai demorar pelo menos 4 horas até o pulso entrar em ação.
-4 horas?!
-Sim, sim. Desligar um canal é fácil e leva alguns segundos. Interromper todas as ondas? Demora, e na verdade, não faz muito sentido. Porque iríamos querer interromper todos os canais ao mesmo tempo? Nunca criamos essa máquina para ser realmente eficiente, até porque nunca imaginávamos que iríamos precisar interromper toda a mídia de Bukkara.
-Bom... então, agora... esperamos?

-Acho que sim. Se quiser, eu dirijo dessa vez. 

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