15 horas, 40 minutos
Uma pequena
lamparina á gás, um saco de dormir e um livro que um norueguês escrevera sobre
a pesca das baleias: tal era o que se encontrava na simples tenda laranja que
Li montara para acampar na Praça Central.
Nunca fora tão feliz na vida. Mesmo depois de passar o dia
berrando e dormir em um lugar sem qualquer luxo, estava feliz de ter quebrado a
rotina e sentia que tinha contribuído em algo para a sociedade, o que a enchia
de alegria.
Quando já abria o saco de dormir para deitar, ouviu uma
voz vinda de fora.
-Alô. Quem está aí dentro.
-Li. Perdão, mas quem está aí fora?
Li se aproximou da porta de tela e por ela logo teve a
impressão de reconhecer uma silhueta. Abri a porta. Era o monge que encontrara
mais cedo.
-Ah, é você. Algum motivo especial para aparecer aqui?-
disse, alegre.
-Nada não. Só gostaria de parabenizá-la pela sua ação
hoje. Você... Fez muito por nós.
-Fico feliz que tenha gostado.
-Posso entrar?- disse, abruptamente.
Li hesitou. Por um lado, era um completo estranho, e
convidar completos estranhos para uma tenda que ainda por cima estava perdida
num mar de tendas praticamente idênticas talvez fosse má idéia. Por outro lado,
pelo menos em teoria era um monge- e monges pregavam a não violência.
-Certo. Pode entrar- disse ela, fazendo um ar misterioso.
Jung sentou ao lado do saco de dormir, em frente de Li.
-Então, você é repórter, não?
-É isso aí. Tenho até minha própria equipe.
-Quem sabe amanhã então você pode nos filmar como disse.
Antes que se desse conta, percebeu que Jung estava
mirando-a com os olhos e parecia que já o estava fazendo há muito tempo. Ambos
ficaram se olhando, em silêncio, porém todos os seus gestos eram calculados
para representar tudo aquilo que queriam dizer.
Antes que pudesse fazer qualquer coisa à respeito, Jung
começara à acariciar o seu rosto lentamente, e, subitamente, a barraca, que até
pouco mesmo com o aquecedor ligado estava gelada, estava agora muito mais
quente, até agradável.
Antes que notassem, os dois estavam de olhos fechados e
seus rostos se aproximaram até se tocarem.
-Espera- disse Li, voltando à si, deixando de lado seu
jeito misterioso e convidativo- Isso não está certo. Eu... eu sou virgem.
Jung começou à rir.
-Minha filha, eu sou um monge. Não dá pra ficar mais
virgem que isso. Hoje cedo o mundo foi nosso. Agora, temos apenas um ao outro.
O ritual recomeçou e seus corpos logo se tocaram mais uma
vez, até que um barulho vindo de fora os interrompeu.
-Ai saco... espera... que movimentação é essa?- olhou pela
porta de tela, apontando com a lanterna.
-Ei! Canal 5... Canal 1... CANAL DO ESPORTE? o que toda
essa gente está fazendo aqui!?- Li olhou para Jung, confusa. -Jung! Minha
cobertura! O que está acontecendo?
-Eu... eu não sei! A mídia toda está aqui?
-Aparentemente, está. Droga, Jung!
-Eu... eu não previ isso. Tem alguma coisa errada. Acho
que as coisas estão saindo de nosso controle.
Li re-abotoou o terno e saiu da barraca, para o grande
desapontamento de Jung.
Saco.
___
-Ei, vocês. São do Canal do Esporte, né?
Os repórteres, um grupo de pessoas bastante confusas,
todas de roupão e pantufas, olharam-na de cima à baixo e responderam:
-É, é, somos.
-E... o que exatamente estão fazendo aqui?
-Não sabemos. Aquele cara... quem é mesmo?
-O Ministro da Cultura.
-Isso, ele disse para virmos para cá registrar o discurso
do Dalai Lama, mas isso aqui tá mais parecendo uma manifestação.
Li desligou-se um instante.O Ministro da Cultura está
conosco? Pera, temos um Ministro da Cultura?
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