15 horas, 27 minutos
-Traidores! Não passam de traidores! Todos vocês!
O Ministro da Energia Dao Rinpoche esbravejava contra o
vento poderoso que batia contra a grande varanda do Palácio Potala. Ninguém o
ouvia. Os gritos de Rinpoche eram desesperadoramente impotentes ante o vento
ancestral e o burburinho da multidão. E, para o seu assessor, o velho Hefei, a
cena de seu patrão dependurado em uma das grades de madeira vermelha da
varanda, segurando uma garrafa de conhaque envelhecido seria bastante
constrangedora se já não tivesse se repetido tantas vezes.
-Senhor... posso ser um mero criado, mas minha experiência
me diz que esbravejar contra a multidão não a fará se dispersar.
Rinpoche virou para ele e seu rosto formou uma grande
caricatura enrugada.
-Ora seu fede...- Rinpoche tentou acertar Hefei com a
garrafa, mas este deu dois passos para o lado. Rinpoche perdeu seu alvo e
tropeçou no próprio manto, caindo de cara no chão. A garrafa quebrou e seu
conteúdo molhou o rosto do ministro, que engasgou e começou à babar enquanto
choramingava, percebendo o sangue em sua testa.
-Olha pra mim- soluçou- Estou uma bosta! Como posso ser o
ministro da energia nesse estado?
-Senhor ministro, você está uma bosta sim- disse Hefei com
um sorriso. Ele aproveitava sempre que Rinpoche ficava bêbado para insultá-lo o
máximo que podia.-Mas, se posso dar uma opinião... O seu antecessor me falou
certa vez de um poderoso equipamento. Acho que pode ser exatamente do que
precisamos.
-O que?- balbuciou.
-A mídia, senhor. Ela está toda aqui. Se pudermos usar...
-Espera, espera, espera. Levante-me.
Hefei ajudou Rinpoche à se levantar, com muita
dificuldade.
-Você não está falando... da Tomada Universal, está?
-Estou sim, chefe. É só o que pode nos salvar agora. Se
impedirmos a propagação das notícias impediremos que a revolta se espalhe para
outras cidades.
Rinpoche olhou para a praça, que agora parecia uma cidade,
infindáveis velas se estendendo como um tapete de estrelas.
-Hefei- disse, recompondo-se.- Pegue meu casaco. Vamos
desligar o país.
Nenhum comentário:
Postar um comentário