domingo, 6 de julho de 2014

120 horas em Lhassa - Parte XIV

22 horas, 47 minutos

O jipe deslizou com certa elegância até a Praça das Honrarias Militares, a única parte do Palácio Potala em que era possível circular de carro. O jipe passou em frente às tropas em uniformes vermelhos de gala.
De dentro do jipe, saiu o Ministro da Guerra Zheng Gyatso, usando um uniforme verde-oliva repleto de medalhas pesadas, cujas golas, de tão grandes escondiam parte de seu pescoço e que parecia ter sido feito para um homem bem maior.
Gyatso bateu continência para suas tropas, que fizeram o mesmo. Sorriu, e tirou seus óculos escuros. Gyatso tirou do bolso um pequeno aparelho em forma de controle remoto, e os soldados, carregando suas armas em posições ensaiadas, encheram o pátio de hurras. Gyatso sentia o poder transbordando de suas mãos. Estava pronto para a glória.
Gyatso ligou o detonador.
-SINTA A MINHA IRA, LUVSANSHARA! ESSE É O BARULHO DA SUA SUBSTITUIÇÃO! SOU INDESTRUTÍVEL! MEU PINTO SÃO ESSES CANHÕES E A SUA VAGINA É ESSA MULTIDÃO INDEFESA!

Nada aconteceu.
Os soldados tentaram mascarar o silêncio constrangedor com mais hurras, mas não funcionou. Uma hora, eles simplesmente pararam e Luvsanshara ficou sozinho com seu detonador.
-Ah! Merda! Merda! O que aconteceu!? Cadê a minha linda explosão? EU EXIGO EXPLICAÇÕES!
Como ficou sem resposta, o rosto de Zheng Gyatso corou até ficar vermelho como um pimentão. Tomado de raiva e humilhado diante de seus homens, o Ministro da Guerra deixou o pátio e andou pelo corredor cor de carmim.

Maldito defeito! Tem dedo do Ulukorbak nisso. -Pensou.


Após cerca de 20 minutos de carro, chegou ao Promontório Sereno, onde a artilharia parecia estar desorganizada e vários militares corriam por aí, formando rodas de conversa com expressões de preocupação, e então voltando a correr, reiniciando o processo. Parecia que estavam tentando parecer ocupados, mais do que tentar resolver o problema.

Gyatso foi recebido por um militar afobado.
-Ministro da Guerra! Q-Que surpresa... estávamos nos pe-perguntando porque não recebemos seu sinal...
-Eu enviei o sinal, imbecil! O aparelho é que não estava funcionando.
-Senhor, o aparelho é o de menos. Não recebemos a munição. O trem que ia trazê-lo deveria ter chegado há quase meia hora, mas não chegou. Mandamos alguém para descobrir o que aconteceu e cobrar satisfações.
-O QUE?- berrou Gyatso. Já não estava entendendo nada.
-Major! Major!
Um soldado imberbe e com falta de ar correu em direção ao Ministro, e bateu continência aos dois, ficando surpreso em ver o Ministro.
-Senhor Ministro, Senhor!
-Descansar, soldado. O que nos traz?
-Major... tropas estão ocupando a Praça.
-Como?!
-Eu trouxe um binóculo.
O Major olhou pelo binóculo e seu rosto encheu-se de confusão.
-Passe-me isso, idiota!

O Major passou resignado o binóculo e através dele o ministro viu dezenas de soldados chegando em jipes lotados. Havia algo de errado. Os soldados não estavam ajudando à dispersar a multidão- estavam se juntando à ela! 

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